ATO 1 - O PLANO DOS RIVAIS

A Solarion dormia sob luzes tranquilas.

Mas no depósito abandonado atrás do ginásio… sete figuras tramavam como generais sombrios.

Eles não eram apenas rivais.

Eram inimigos decididos.

Reno sentado no topo de caixas, sorrindo como predador.

Nirse cruzada nos braços, olhos gelados.

Violet roendo a tampa de uma caneta.

Ilia com o celular iluminando o próprio rosto.

Daryl e Craven mexendo em arquivos digitais.

Skam quieto no canto, observando tudo.

Era uma reunião de guerra.

Eles sabiam que nunca superariam os dez naquilo que importava:

• talento,

• união,

• confiança,

• carisma,

• liderança.

E isso queimava mais que ciúmes.

Era rancor.

Era ódio silencioso.

Por isso o plano deles não mirava o corpo.

Mirava a alma.

Eles queriam destruir a reputação dos dez.

Queriam corromper como uma doença.

Queriam arrancar deles aquilo que os tornava fortes:

pertencimento.

E assim definiram três frentes de ataque.

EIXO 1 — A GRANDE MENTIRA DIGITAL

(Ilia + Craven)

Ilia entregou o notebook para Craven como quem entrega bisturi a um cirurgião.

— “A reputação deles começa a morrer hoje.”

Craven digitava rápido, metódico, sem piscar.

Montava vídeos, falsificava imagens, ajustava sombras para parecer “natural”.

Era monstruoso — e brilhante.

▪ Deepfakes colocavam Dante e Kael em cenas de briga.

▪ Maira e Nami apareciam manipuladas entre ruínas com símbolos distorcidos.

▪ Lyra e Jessica surgiam em supostos “encontros secretos”.

Craven trocava cenários, adicionava fumaça, brilho, distorção térmica.

Tudo de modo realista demais.

Áudios cortados viraram frases sinistras:

— “Ninguém pode saber…”

— “Vai começar hoje.”

Centenas de contas falsas estavam prontas.

Posts agendados para explodir às 7h40 da manhã — exatamente quando os corredores ficam lotados.

Eles sabiam:

Quando algo viraliza… vira verdade, não importa se é mentira.

O objetivo era simples e cruel:

Encher o mundo de dúvida até que a verdade não importasse mais.

EIXO 2 — A SABOTAGEM FÍSICA

(Daryl + Skam)

Daryl abriu o armário da química com uma chave roubada semanas antes.

Skam vigiava o corredor com a calma de um assassino.

Eles queriam dar corpo ao boato.

▪ Pó irritante nos vestiários dos times → atletas tossindo e com alergias.

▪ Etiquetas trocadas no laboratório → substâncias pareciam mais perigosas.

▪ Equipamentos sabotados → redes arrebentando, bolas murchas, cordas desgastadas.

▪ Arranhões com “símbolos estranhos” nos armários → conectando fisicamente ao deepfake.

▪ Bilhetes falsificados com letras parecidas com Dante e Kael → alunos apavorados.

Era perverso porque era plausível.

E se há um incidente físico… o cérebro busca culpados.

E quando já existe uma história viral sobre culpados… tudo se encaixa perfeitamente.

Mesmo que não seja verdade.

EIXO 3 — A MANIPULAÇÃO SOCIAL

(Nirse + Violet)

Nirse conhecia a fraqueza de cada setor da Solarion.

Sabia exatamente por onde puxar fios invisíveis.

— “Vamos fazer eles virarem párias.” — ela disse.

Violet sorriu, satisfeita.

E então começou a destruição moral:

▪ Mensagens “anônimas” para treinadores:

— “Dante e Lukas podem machucar alguém.”

— “Kael e Aiden foram vistos mexendo em produtos químicos.”

▪ Prints falsos mostrando “brigas internas” das meninas do vôlei.

▪ Áudios editados com Maira gritando com Nami.

▪ Comentários sutis espalhados em grupos de pais:

— “Ouvi dizer que esses jovens têm comportamentos estranhos…”

▪ Sugestões plantadas para líderes de clubes:

— “Melhor afastar eles por enquanto. Só para garantir.”

▪ Depoimentos inventados em comitês estudantis.

▪ E-mails falsos enviados à direção.

Era uma teia.

E quando a teia estava armada… ninguém questionaria o porquê de se afastar.

Era medo.

Puro, instintivo, contagioso.

ATO 2 — QUANDO A GUERRA SILENCIOSA COMEÇA A DOER

O plano não caiu como uma bomba.

Caiu como VENENO.

Lento.

Invisível.

Eficiente.

A cada corredor, a cada aula, a cada treino…

os dez começavam a sentir o preço.

1. O PRIMEIRO IMPACTO — FUTEBOL

Dante e Lukas perceberam antes de todos.

No treino da tarde, o técnico segurou a prancheta como se pesasse o triplo.

— Dante… Lukas… podem ficar no banco hoje. — disse sem encarar nenhum dos dois.

Os comentários começaram baixinho no time:

— O técnico recebeu uns áudios aí…

— Dizem que os dois tão envolvidos em umas paradas estranhas.

— Melhor não arriscar.

Dante riu — aquele riso duro que tentava esconder dor.

— Que palhaçada é essa?

O técnico apertou os olhos.

— Até a diretoria está investigando. Não posso colocar o time em risco.

Lukas avançou um passo.

— Em risco?! Do quê?

Nenhuma resposta.

Somente olhares.

Olhares de medo.

Olhares evitados.

Olhares que diziam:

“Vocês são problema.”

“Vocês não deveriam estar aqui.”

Dante deu um passo atrás, respiração presa.

Um atacante de outro grupo murmurou:

— Sempre achei que tinha algo errado com eles.

E ninguém contestou.

Porque esse era o efeito do boato:

Ninguém precisa acreditar totalmente.

Só precisa não defender.

2. O CHOQUE NO VÔLEI — MAIRA, NAMI, SOPHIA, KAEL, AIDEN

No ginásio, o impacto foi mais devastador.

As meninas do vôlei geralmente abraçavam Maira na chegada.

Nesse dia…

os braços se fecharam.

Algumas desviaram o olhar.

Outras simplesmente viraram as costas.

A mais nova do time, Lara, recuou.

— Desculpa, capitã… a comissão pediu pra gente manter distância… por segurança.

Maira sentiu como se o chão abrisse.

— Segurança do quê?!

A treinadora, rígida, interveio:

— Recebemos mensagens sérias. Até que a diretoria finalize a investigação, vocês três… não podem liderar treinos.

Nami apertou a própria camisa.

— Como assim? Nós somos o time. Nós…

— Afastadas, Nami. — a treinadora cortou, fria. — É uma ordem.

Sophia, sempre doce, tentou tocar o ombro da treinadora.

— Isso deve ser um engano. A gente pode explicar…

A treinadora deu um passo para trás.

DEU. UM. PASSO.

Como se Sophia fosse perigosa.

Sophia congelou. Literalmente.

Os olhos marejaram.

Do outro lado do ginásio, Kael e Aiden eram alvos de cochichos:

— Eles estavam na área da química ontem.

— Meu irmão teve alergia naquele dia.

— Deve ter sido eles… certeza.

Aiden tentou falar:

— Isso é absurdo. A gente nunca—

— Chega, Aiden. — o treinador cortou. — Hoje vocês não treinam. Nem amanhã. Nem esta semana.

Kael trincou os dentes.

Ele era forte.

Mas ali…

parecia quebrar por dentro.

3. A QUEDA DAS LÍDERES DE TORCIDA — LYRA E JESSICA

No estúdio de dança, a traição foi ainda mais afiada.

A coordenadora de líderes de torcida abriu uma pasta.

— Recebemos prints… áudios… depoimentos.

Lyra tentou sorrir.

— Eles são falsos…

— São muitos, Lyra. — a coordenadora disse. — Não posso ignorar.

Jessica deu um passo à frente.

— Você conhece a gente. Não faríamos nada disso!

A coordenadora hesitou. Ela realmente gostava delas.

Mas a pressão era grande demais.

— Até segunda ordem… vocês duas estão suspensas.

Lyra sentiu algo quebrar no peito.

Não só o orgulho.

A identidade.

Ela era líder de torcida desde os 13 anos.

Era onde brilhava.

Era quem ela era.

A suspensão não doeu no corpo.

Doeu no coração.

Jessica segurou a mão dela.

— A gente supera isso. Juntas.

Mas o olhar das outras líderes…

era de desconfiança.

E, o pior…

de medo.

4. A REAÇÃO DA ESCOLA — CORREDORES TÓXICOS

A notícia se espalhou como incêndio:

“A diretoria suspendeu eles.”

“Eles mexem com química.”

“Tem vídeo deles invocando alguma coisa.”

Cada corredor era um julgamento silencioso.

Colegas desviavam.

Outros se afastavam.

Alguns riam.

E os dez caminhavam juntos, apertados, como um animal ferido se protegendo do mundo.

5. A DESCONFIANÇA ENTRE PROFESSORES

Na sala de aula:

— Professor, posso trocar de lugar? Estou do lado da Maira.

— Professor, posso sentar longe do Dante?

— Professor, o Kael tá com um caderno estranho.

Comentários assim surgiam o tempo todo.

Um professor mais velho, rígido, falou:

— Vocês dez… gostaria que não se envolvessem em atividades extracurriculares até segunda ordem.

Dante bateu na mesa.

— Isso é perseguição!

— É precaução. — o professor respondeu, sem emoção.

Kael puxou o braço do amigo.

— Não adianta. Eles já acreditaram.

6. O IMPACTO INVISÍVEL — O ESPIRITUAL

Os despertos começaram a sentir algo muito pior do que rejeição.

Poderes oscilando.

Aura instável.

Energia desconectada.

Nami sentiu água condensar em suas mãos sozinha.

Aiden deixou escapar cristais de gelo ao tossir.

O vento de Kael respondia antes dele comandar.

Maira sentia a rocha sob seus pés… pulsar.

Lyra tinha lampejos de luz sem querer.

Dante suava calor… sem estar quente.

As sombras percebiam.

E se aproximavam.

Mas os dez…

não entendiam ainda.

7. O NÚCLEO DO MAL — OS SETE RIVAIS CELEBRAM

Em uma sala vazia no terceiro andar, os sete rivais comemoravam.

Reno empurrou a porta com o pé, fechando-a atrás.

Nirse jogou o cabelo para trás, triunfante.

— O vôlei caiu.

— O futebol caiu.

— As líderes caíram.

— Professores caíram.

Violet sorriu.

— Eles estão isolados. Não têm pra onde correr.

Skam se encostou na parede, braços cruzados.

— Mais alguns dias… e vão quebrar completamente.

Craven mostrou a tela do celular:

— Olhem. A vice-diretora quer reunião sobre eles. Estão oficialmente sob investigação.

Reno gargalhou.

— Isso é só o começo.

Nirse foi além — sempre foi.

— Quando eles estiverem no chão… a gente pisa na última fagulha que resta deles.

Ilia, mexendo no próprio batom, falou como quem comenta o clima:

— E então… a escola será nossa.

O silêncio que veio depois…

…não era de vitória.

Era de CRUELDADE.

Pura.

Gelada.

Intencional.

ATO 3 — O CÍRCULO DO PODER: PEGADAS E PRESSA

O salão branco do Círculo tremulhava com luzes inquietas.

As runas no chão pareciam desconfortáveis — como se percebessem que algo muito maior estava se movendo na cidade.

Ao centro, o holograma da cidade exibia apenas dois pontos críticos pulsando.

Dois focos de sombra.

Dois sinais vermelhos.

Mas nenhum deles estava no sudeste.

Nenhum deles revelava Vor’Gath.

O QUE ELES DETECTARAM (APENAS AS DISTRAÇÕES)

Maelis ampliou o holograma com um gesto rápido.

1 — Setor Norte — Clã Karfenn

O mapa mostrava rastros lupinos profundos, calor corporal anormal, e uma concentração absurda de magia feral.

Selene reconheceu na hora:

— “Movimentação de ataque. O Clã Karfenn inteiro está em deslocamento.”

2 — Setor Oeste — Ritual de Invocação

Aura de enxofre.

Ondas espirituais irregulares.

Correntes de energia saindo do chão.

Maelis completou:

— “Isto é uma assinatura do Vórtice. Uma invocação em estágio avançado.”

O Terceiro Ponto — Ignorado

Um terceiro registro existira há horas — um pico de calor no sudeste —

mas foi classificado como anomalia residual causada pelo último terremoto energético.

Ninguém deu atenção.

Ninguém analisou.

Foi automaticamente marcado como “não prioritário”.

E assim, o sudeste ficou completamente livre.

Exatamente como a Tríade Sombria queria.

A REUNIÃO DO CÍRCULO

Altherion ergueu a mão — faíscas azuis tilintando como chuva elétrica.

— “Temos duas ameaças. E ambas são sérias demais para ignorar.”

Maelis projetou o oeste.

— “Se o ritual completar, teremos um demônio maior. O dano urbano seria catastrófico.”

Némaia mostrou o norte:

— “Se os Karfenn alcançarem residências, teremos dezenas de vítimas.”

Altherion respirou fundo.

— “Dividiremos forças. Talerion, você liderará a operação oeste. Interrompa o ritual antes que atravesse o Véu.”

Talerion assentiu, firme.

— “Sim, pai. Prepararei uma força-tarefa imediatamente.”

Maelis adicionou:

— “A Elite dos Defensores será enviada ao norte. Eles têm o preparo físico e tático para lidar com o Karfenn.”

Némaia reforçou:

— “Nenhum civil pode morrer.”

Altherion tocou o Selo Sagrado, que brilhou intensamente.

— “Que a Luz os guie. Movam-se.”

E o Círculo dispersou em pressa controlada.

Sem notar a lacuna no mapa.

Sem perceber a ausência do sudeste.

Sem sentir a presença crescente de calor espiritual.

A distração funcionava.

ENQUANTO ISSO — A ELITE DOS DEFENSORES SE MOVE

No quartel avançado, Arctéan analisava câmeras de satélite.

Criaturas enormes.

Movimento em bando.

Olhos incandescentes.

Selene fechou a pasta.

— “Definitivamente Karfenn. E em grupo completo.”

Korvus arregalou os olhos ao ampliar um quadro:

— “Eles estão migrando para uma zona residencial. Isso é deliberado.”

Saren concluiu:

— “Isso é uma distração.”

Arctéan, com o sorriso de quem entra no fogo de propósito, respondeu:

— “Ótimo. A gente apaga.”

Ele ergueu a voz:

— “Equipe Alpha! Armas, selos, contenção! O norte é nosso!”

Um a um, a Elite se armou: glifos, manoplas, lâminas espirituais, mantos vibrantes.

E partiram.

Sem olhar para o sudeste.

Sem sentir o calor crescendo.

Sem imaginar o que caminhava para a direção oposta.

Enquanto a luz estava ocupada com as distrações,

do outro lado da cidade,

Vor’Gath havia saído do subterrâneo.

E avançava silenciosamente, como um vulcão escondido sob pele humana e armadura derretida.

Os Dez estavam a poucos quilômetros dali.

E não havia ninguém entre eles e a criatura.

Nenhum defensor.

Nenhum guardião.

Nenhum alerta.

O Círculo do Poder estava olhando para o lugar errado.

A Elite estava lutando contra as distrações.

O sudeste estava entregue ao destino.

E o destino ardia.

ATO 4 — CAMPO FORA DA CIDADE: UMA NOITE EM QUE O SILÊNCIO DOEU

A cidade ficou para trás como um borrão cinzento e sufocante.

Os dez caminharam para o campo aberto — não porque queriam, mas porque precisavam.

O ar na Solarion estava pesado demais para respirar.

Os olhares, as fofocas, as punições injustas… tudo parecia esmagá-los por dentro.

Ali, fora da cidade, o mundo era vasto, aberto, silencioso.

Mas o silêncio não ajudou.

Ele só amplificou as dores.

O círculo se formou naturalmente — não por alegria, mas por necessidade.

Uma fogueira tímida iluminava rostos abatidos.

Ninguém sabia por onde começar.

Até que alguém começou.

1 — A FISSURA NOS ESPORTES

Dante chutou uma pedra antes de se sentar, a mandíbula travada.

— “Ficar no banco… no banco, cara.”

A voz falhou.

— “É como se eu tivesse desaprendido tudo.”

Lukas, sentado ao lado, puxou um punhado de grama.

— “Achei que era só comigo. O técnico mal olhou na minha cara.”

Ele soltou um riso quebrado.

— “Dizem que somos ‘risco’. Eu? Risco?”

Dante tocou o ombro do amigo.

— “A culpa não é sua, mano.”

Lukas, pela primeira vez, não respondeu.

Lyra aproximou-se dos dois, sentando-se entre eles. Seus dedos tremiam.

— “Eu tentei defender vocês na reunião das líderes…”

Engoliu seco.

— “Mas ninguém quis me ouvir. Parecia que eu estava contaminada só por estar com vocês.”

Jessica se sentou atrás de Lyra, puxando-a para perto.

— “Eu também fui suspensa. A gente sempre protegeu aquele grupo, e agora… somos ameaça.”

2 — O DESMONTE DO VÔLEI

Maira estava abraçando os próprios joelhos, olhando para a fogueira como se ela tivesse respostas.

Nami estava ao lado, mas não conseguia encostar nela.

Aiden e Kael chegaram, silenciosamente, como sombras.

Nami falou primeiro:

— “A treinadora deu um passo pra trás… como se eu fosse… tóxica.”

Ela esfregou o braço.

— “Eu nunca tinha me sentido suja antes.”

Maira levantou o rosto.

— “Eu perdi o comando do time. Perdi minha voz. E eu…”

Ela parou.

Ryu sentou-se ao lado, a mão tremendo ao tocar o ombro dela.

— “E você o quê?”

Maira deixou escapar num sussurro:

— “Eu não sei quem eu sou sem vôlei.”

O grupo inteiro silenciou.

Kael fechou os olhos — como se ver a irmã daquele jeito fosse pior do que qualquer golpe físico.

Aiden apertou a mão de Nami, devagar.

Sophia, que observava tudo de longe, finalmente falou com voz baixa:

— “Eu ouvi as meninas dizendo que eu podia ‘trair o time igual traio a mim mesma’. Elas acham que eu sou fraca… que eu sigo vocês cegamente…”

Aiden virou rápido.

— “Sophia. Você nunca foi fraca.”

Ela desviou o olhar, corando — mas as lágrimas brilharam.

3 — QUANDO NEM A AMIZADE PARECE SALVAR

Ryu levantou a voz pela primeira vez naquela noite.

— “Sabe o que é pior? Não foi só a escola. Foi a gente.”

Ele colocou a mão no peito.

— “A gente está quebrando por dentro.”

Jessica olhou ao redor.

— “Hoje cedo ninguém teve coragem de entrar na escola sozinho.”

Kael soltou um suspiro longo, quebrado.

— “Eu dormi pensando no que fizemos de errado.”

Nami respondeu imediatamente:

— “Nada. Nós não fizemos nada.”

Mas a própria voz dela tremia.

Lyra respirou fundo e disse:

— “Todos nós perdemos alguma coisa. Nossa reputação, nosso lugar, nossos times… nossa normalidade.”

Ela olhou para cada um deles.

— “Mas eu me recuso a perder vocês.”

Dante ergueu a cabeça, forçando um sorriso que doía.

— “É. A gente ainda é a gente, né?”

Maira limpou uma lágrima antes que caísse.

— “Mesmo se o mundo não quiser.”

Lukas cruzou os braços.

— “Mesmo se o mundo inteiro achar que somos monstros.”

Aiden completou, firme:

— “Nós sabemos a verdade.”

E Sophia, com voz quase inaudível:

— “Eu… só tenho vocês.”

A frase caiu como chuva em terra seca.

Ryu murmurou:

— “Então ninguém solta a mão de ninguém. Nem agora. Nem depois.”

Todos se aproximaram, instintivamente.

Dez jovens.

Feridos.

Desgastados.

Ameaçados.

Mas juntos.

Pela última vez naquela noite…

eles respiraram um pouco de paz.

E ENTÃO… O AR MUDOU.

De repente, o vento ficou quente demais.

A grama perdeu a cor.

O campo silenciou como um animal acuado.

Kael foi o primeiro a sentir.

— “…calor… forte demais.”

Nami olhou para o céu.

— “Isso não é normal.”

Dante se levantou devagar, sentindo o estômago virar.

Um som grave ecoou.

Não era rugido.

Não era explosão.

Era rocha rachando.

Era magma respirando.

E então…

ele apareceu no topo da colina.

Vor’Gath.

Um gigante de pedra viva, metal derretido pulsando entre fissuras da armadura.

Cada passo queimava o solo.

Ele apontou direto para Dante.

— “Dante Kyron.”

Dante empalideceu.

— “Eu… não faço ideia de quem você é.”

Vor’Gath sorriu — um sorriso que derreteu a grama sob seus pés.

— “Mas eu sei quem você é.

E você acendeu meu fogo.”

Ele ergueu o braço.

— “E hoje… eu apago o seu.”

E lançou uma onda de magma que transformou a noite em inferno.

ATO 5 — O EMBATE: FOGO CONTRA LUZ

O primeiro ataque de Vor’Gath não foi um aviso.

Foi um julgamento.

Uma onda de magma atravessou o campo como um raio vermelho, explodindo a grama, cuspindo pedras, transformando o ar em vapor. Os dez foram arremessados para trás, mas os seis despertos reagiram por puro instinto — instinto de guerra, instinto de proteção.

Dante ergueu-se primeiro, o fogo queimando pelos olhos.

— ESPALHEM! PROTEJAM ELES!

Os seis formaram um círculo — cada um se movendo para defender um quadrante.

Vor’Gath caminhou como um terremoto ambulante, rachando o solo com cada passo.

DANTE VS VOR’GATH — FOGO CONTRA FOGO

Dante avançou, soco cerrado em chamas.

— BEM LONGE! FICA LONGE DELES!

Ele lançou três projéteis flamejantes — rápidos, quentes, precisos.

Vor’Gath ergueu a mão.

E o impossível aconteceu:

ele absorveu o fogo.

A armadura de magma brilhou mais forte, como se tivesse bebido o ataque.

— Seu fogo pertence a mim, pequeno.

— Eu sou o fogo que queimava ANTES de vocês nascerem.

Vor’Gath golpeou o ar com a palma aberta.

Um clarão vermelho cortou o campo.

Dante voou como boneco, rolando no chão até Kael segurá-lo.

KAEL E AIDEN — VENTO E GELO EM HARMONIA

Kael girou o braço, invocando uma lâmina de vento que uivou como foice.

— Agora, Aiden!

O amigo respondeu, estalando os dedos e criando estacas de gelo azul cristal.

Kael lançou as lâminas com o vento.

Aiden congelou-as no meio do caminho, transformando o ataque em dezenas de flechas aerodinâmicas.

Um ataque perfeito.

As flechas cravaram-se no peito de Vor’Gath.

Por meio segundo… pararam o gigante.

A armadura rachou…

…e então derreteu o gelo como se fosse manteiga.

Vor’Gath avançou um passo — e o vento ao redor queimou.

— Tentativa interessante. Fraca, mas… interessante.

Com um movimento, ele bateu o pé no chão.

Uma onda sísmica explodiu pelo campo.

Aiden e Kael voaram metros para trás, rolando sobre pedras quentes.

NAMI E LYRA — PROTEÇÃO E SUPORTE

Jessica, Sophia e Ryu corriam em pânico.

Para eles, tudo era terror puro — explosões, fogo, o chão se abrindo.

Lyra ergueu as mãos — raízes gigantes subiram como muralhas vivas.

Nami puxou água do ar, do orvalho, da terra, criando um escudo líquido.

A barreira dupla segurou um jato de lava…

…por QUATRO segundos.

Quatro segundos que salvaram três vidas.

Mas o calor foi tanto que as raízes queimaram de dentro para fora

e a água virou vapor, explodindo no ar.

Lyra caiu de joelhos, tonta.

Nami tossiu, a garganta em agonia pelo vapor quente.

MAIRA — O MUNDO EM SEU PUNHO

Maira avançou sem hesitar — punho envolto em pedra viva.

— VOCÊ. NÃO. TOCA. NOS. MEUS!

Ela saltou, golpeando o peito de Vor’Gath com tanta força que o chão tremeu.

A armadura trincou.

Pela primeira vez, Vor’Gath cambaleou.

Mas então ele segurou o punho dela.

O som foi de rocha contra rocha.

— Coragem admirável. Inútil.

Ele arremessou Maira para longe como se fosse leve.

Ela bateu de costas em uma pedra, o impacto seco ecoando pelo campo.

Kael gritou o nome da irmã — mas não teve tempo de correr até ela.

UMA ESTRATÉGIA ARRISCADA

Dante, ainda cambaleando, se levantou.

— Kael… vento comigo… agora!

Kael ergueu o braço, ainda tremendo.

Dante acendeu o punho.

Vento + Fogo.

Uma espiral flamejante tomou forma — um tornado ardente que rugiu como fera viva.

Eles avançaram juntos, cortando o ar.

A espiral atingiu Vor’Gath no peito.

Desta vez, o gigante realmente recuou — passos largos, arrastando a lava.

Um brilho intenso surgiu no núcleo da armadura, como coração exposto.

— AGORA, MAIRA! NO NÚCLEO!

Mesmo ferida, Maira reuniu forças, carregando o punho de pedra.

Ela golpeou o ponto fraco.

O som da batida ecoou como trovão.

Vor’Gath rugiu — um rugido tão alto que fez os ouvidos sangrarem.

Por um momento, parecia que tinham vencido.

Por um momento.

A VIRADA — ELA VEM NUM ÚNICO GOLPE

Vor’Gath ergueu a cabeça, e o núcleo brilhou como sol de dentro para fora.

— Chega de brincadeiras.

Um clarão vermelho explodiu do centro do peito dele…

…e virou uma onda de choque incandescente.

Os seis despertos foram lançados como bonecos.

A batalha acabou para eles naquele instante.

Kael caiu de bruços, sangrando.

Aiden ficou sem ar, de joelhos.

Nami desmaiou por três segundos.

Maira não conseguia levantar o braço.

Lyra estava zonza, vendo tudo dobrado.

Dante, tossindo sangue, tentava se levantar — e não conseguia.

Os humanos estavam vulneráveis.

Totalmente.

E ENTÃO VOR’GATH FOI ATÉ ELES.

Sophia e Jessica estavam juntas, abraçadas, chorando.

Lukas tentava ficar em pé, mesmo tonto.

Ryu mancava, tentando arrastar os dois para longe.

Vor’Gath caminhou na direção deles — cada passo abrindo crateras ardentes.

— Humanos frágeis… tão frágeis.

Ele levantou o punho.

— Vocês carregam o cheiro da Luz… então MORRAM POR ELA.

Lukas se jogou à frente, abrindo os braços.

— NÃO! NÃO VAI TOCAR NELAS!

Vor'Gath o acertou com um golpe lateral —

Lukas voou como folha ao vento, rolando pelo chão até apagar.

Ryu correu e tentou impedir —

Vor’Gath o atingiu com o dorso da mão.

O atleta caiu inconsciente ao lado do amigo.

E assim…

Jessica e Sophia ficaram sozinhas.

Duas humanas.

Duas meninas chorando.

Diante de uma entidade feita de lava e ódio ancestral.

Vor’Gath ergueu o punho.

O ar ficou vermelho.

O calor ficou insuportável.

O chão se derreteu sob seus pés.

— “PAGUEM EM FOGO…

PELO FOGO QUE ME ACORDAOOU.”

A mão desceu.

O ataque veio.

E o capítulo termina EXATAMENTE AQUI.

No segundo em que o punho de Vor’Gath cai —

— e tudo o que resta

é grito

calor

e destruição iminente.