PARTE 1 — QUANDO A MONTANHA RESPIRA

A montanha nunca deveria emitir luz.

Mas naquela noite, a superfície de pedra parecia latejar como um pulmão desperto. O brilho que escapava pelas fissuras era modesto para qualquer humano distraído — mas agressivo para quem conseguia enxergar além do Véu.

Lá embaixo, os aldeões dormiam tranquilos.

O noticiário do dia seguinte transformaria tudo em rotina:

“Tremor leve durante vento forte.”

Nada além disso.

O Véu cuidava dessas mentiras piedosas.

Mas na face verdadeira do mundo… algo começava a abrir os olhos.

A CHEGADA DOS ÚLTIMOS CLASSE A

Cordões de soldados espirituais cercavam a encosta.

Classe C e D.

Armaduras rúnicas simples.

Disciplina forçada.

Medo honesto.

O veterano de cabelos brancos estreitou os olhos.

— A montanha está inquieta. Não via isso desde antes do meu avô.

Outro soldado aproximou-se, a voz quase falhando.

— Acha que é… ele?

A encosta vibrou duas vezes. Batidas nítidas. Regulares.

Nenhum tremor natural tinha esse ritmo.

O ar ficou pesado demais para carregar som.

Então a luz se abriu — fina, reta, sem ruído, A realidade trincou em um estalo seco.

E eles atravessaram.

Sete figuras.

Sete pilares da Terra.

Os últimos Classe A vivos.

Arden Solarius pisou primeiro.

A Solar Pyra emanava calor disciplinado — não destrutivo, apenas incontestável. Arden observou cada companheiro antes de olhar o portal. Contava vidas antes de contar inimigos.

Naerion Tideborn emergiu em remoinho de água viva.

Sylas Venthar pousou com um sussurro de vento.

Lyssandra Veridian trouxe vida ao solo rachado.

Kaelor Frostmind caminhou entre cristais suspensos.

Rhaen Voltaris veio com faíscas que serpenteavam pelos braços.

Tharon Earthshaper chegou por último, firme como a própria montanha.

O veterano murmurou, reverente:

— Classe A… verdadeiros.

Arden se aproximou da superfície pulsante.

— Tharon. Fala comigo.

Tharon pousou a mão na rocha. O chão vibrou como animal nervoso.

— O limite entre os mundos está afundando. As Sombras empurram. E do outro lado… existe presença desperta. Não atravessou, mas observa.

Phantom observa.

A palavra caiu como pedra na água.

Rhaen perdeu a pose por um instante.

— Se ele passar… o mundo inteiro enxerga. Nem o Véu sustenta.

Naerion completou:

— O Véu distrai. Mas não remenda realidade quebrada.

Arden respirou firme.

— Então o portal não abre. Não hoje.

A CHEGADA DOS GENERAIS

Antes que terminasse a frase, criaturas começaram a escorrer da fenda — sombras imperfeitas, corpos sem definição, Corpos que tentavam imitar humanos, mas não completavam a estrutura.

Para os humanos do vale, o Véu já transformava aquilo em “vento cortante”, “falha elétrica”, “clarão isolado”.

Mas ali, sem disfarces, o corredor escuro se abriu.

E os Generais atravessaram.

Erebos pisou primeiro.

A armadura dele parecia devorar claridade. Os olhos, duas brasas segurando a forma humana por mera convenção.

— Luz ainda caminhando? — comentou, sem sorriso. — Costumava admirá-los mais.

Shyren deslizou ao lado, deixando trilhas de escuridão que não tocavam o chão — corriam dentro dele.

— Fala menos, Erebos. Quero escutar o mundo rachar.

Mal’kara avançou com elegância cruel. O ar esfriou onde ele passou.

— Há beleza em consumir um mundo que não percebe que já acabou.

Vyrik apareceu cortando o ar, cada passo uma linha afiada.

— Corram, Guardiões. É mais divertido quando tentam.

Sethrall ergueu o rosto, e sua voz parecia fugir do próprio corpo:

— Todo início de tragédia tem uma nota inaugural…

A vibração correu pelo espaço em ondas curtas, desalinhando a luz.

Nahem entrou sem alterar expressão, trazendo ausência total consigo. O espaço ao redor parecia falhar — nenhum som sobrevivia perto dele.

Por fim, Vorien atravessou o limiar.

Ele pairou brevemente, sem esforço, e desceu como se escolhesse obedecer à gravidade apenas por educação.

— Guardiões… defender o inevitável é poesia bonita. E poesia… morre primeiro.

Arden deu dois passos à frente, protegendo a linha dos soldados.

Mas algo maior que palavras atravessou o ar.

Não forma.

Não voz.

Não imagem.

Uma vontade.

Phantom olhava.

O ar dobrou.

A rocha estalou.

As sombras se reorganizaram como soldados alinhando a postura.

Kaelor perdeu equilíbrio por um instante.

Naerion respirou fundo demais, como quem tenta compensar peso invisível.

Lyssandra se curvou quando a vegetação ao redor morreu num suspiro seco.

Arden ergueu a voz — firme, absoluta:

— NO MEU COMANDO!

FIQUEM LONGE DO PORTAL!

E a batalha começou como trovão divergido pelo Véu.

A NOITE QUE ENGOLE OS HERÓIS

Vyrik atacou primeiro.

Um corte negro surgiu do nada — mais rápido do que impulso, mais estreito do que pensamento.

Sylas deslizou para interceptar, erguendo uma barreira de vento que rachou em duas direções distintas.

A onda resultante ecoou no Véu como “trovão seco”.

Mal’kara avançou sobre Kaelor, espalhando frio morto.

A sombra dele parecia roubar o calor do ar.

Kaelor ergueu uma lâmina de gelo absoluto — a colisão produziu um som metálico e distorcido, como se o impacto estivesse sendo abafado por dentro.

Arden rompeu a distância e destruiu o ataque sombrio com um golpe de fogo direto.

— Mantém distância dele — ordenou, sem levantar a voz. — Você ainda tem trabalho a cumprir.

Lyssandra tentou criar raízes para estabilizar o terreno.

Elas morreram antes de tocarem o chão — drenadas em instantes.

— Ele está arrancando vida… da própria terra — sussurrou ela, chocada.

Arden tocou o ombro dela, firme.

— Não se aproxima. Você é o coração do selo.

O grupo estabilizou — por segundos.

AS PUNIÇÕES DOS GENERAIS

Shyren marcou o ar com três runas afiadas.

As marcas flutuavam como feridas suspensas, prestes a despencar sobre a encosta.

Tharon ergueu pilares sísmicos antes que elas colapsassem.

A rocha subiu como muralha viva — e segurou o impacto com estalos graves.

Rhaen disparou uma descarga elétrica que partiu nuvens invisíveis.

O estalo atravessou o Véu e virou notícia banal: “relâmpago isolado”.

Mas então algo maior atravessou tudo.

O portal vibrou.

Não como porta.

Como coisa viva tentando romper casca.

Kaelor caiu sobre uma perna.

Arden se moveu para estabilizá-lo, mas Naerion perdeu o controle de um dos anéis d’água.

O fluxo girou errado por um instante.

Pausa.

Arden respirou uma única vez — lenta, funda — preparando-se para reorganizar tudo.

Lyssandra tentou levantar a cabeça, mas o terreno sob ela parecia ceder meio centímetro, como se o solo respirasse errado.

Sylas se firmou com esforço, puxando vento para manter o equilíbrio.

Rhaen apagou por um segundo, reacendendo com um estalo fraco.

A equipe se recompôs em fragmentos.

Foi nesse intervalo que Arden viu:

Vorien atravessando o campo silenciosamente, pronto para perfurar Lyssandra.

Arden correu.

Não havia cálculo.

Só decisão.

O impacto o lançou metros para trás, a Solar Pyra estalando com o choque.

Lyssandra se ajoelhou ao lado dele, desesperada.

— Arden! Fala comigo!

Ele respirou fundo.

Deu um sorriso curto, cansado.

— Enquanto eu estiver de pé… ninguém toca vocês.

E se ergueu — como se a queda não tivesse acontecido.

Esse gesto mudou o rumo da batalha.

E marcou o início inevitável:

— POSIÇÃO DE SELAMENTO! — sua voz cortou o ar como comando militar e oração ao mesmo tempo.

A montanha respondeu, vibrando.

Os Generais perceberam tarde demais.

O RITUAL

O silêncio veio primeiro.

O ar ficou suspenso por um instante quando Tharon fincou as mãos na rocha.

A montanha respondeu — rápida, brutal — erguendo pilares sísmicos em um único impulso.

Kaelor ergueu os braços e espalhou símbolos de gelo pelo chão.

Linhas geométricas se formavam como circuitos espirituais.

Naerion convocou anéis de água que giravam em velocidades distintas.

Cada um sustentava um nível do fluxo.

Sylas puxou vento para dentro do ritual — um fio invisível, costurando gelo, água e terra.

Lyssandra fechou os olhos.

Raízes luminosas brotaram, conectando os Guardiões como sinapses vivas.

Rhaen ergueu seu raio — condensado, contido, preparado para a ignição final.

E Arden…

Arden pousou a mão sobre o núcleo, e a Armadura Solar Pyra brilhou de forma irregular, como se lutasse para manter a própria integridade.

Ele anunciou, voz cansada mas firme:

— Guardião Sol… núcleo ativo.

As respostas vieram como batidas sincronizadas:

— Terra… ancorado!

— Água… fluxo constante!

— Vento… linhas estáveis!

— Natureza… rede viva completa!

— Gelo… selos traçados!

— Raio… ignição pronta!

A geometria espiritual fechou-se como engrenagem divina.

E por isso os Generais perderam o controle.

AS SOMBRAS REVIDAM

Erebos ergueu as duas mãos, e uma esfera de escuridão pulsante se expandiu. Desta vez, a escuridão aspirava cor do ambiente, apagando nuances como se alguém desligasse variáveis da luz.

— A luz insiste em existir. Arrogância tola.

Rhaen avançou com o trovão, e o choque abriu uma fenda luminosa entre eles.

Shyren correu pela pedra vertical, desenhando runas que prendiam o ar em posições impossíveis.

— Se o selo tem espinha… posso quebrá-la.

Kaelor congelou as runas no ar e as estilhaçou.

Mal’kara aproximou-se de Lyssandra.

Não corria — deslizava.

— O que você chama de vida… sempre coube na palma de alguém mais forte.

A sombra dele drenava cor, calor, som.

Lyssandra cambaleou quando o ar ao redor ficou gelado como metal molhado.

Arden apareceu entre os dois, fogo estourando num círculo de luz.

— Encosta nela de novo e eu transformo seu nome em cinzas.

Mal’kara sorriu com falsa cortesia.

— Ameace melhor. Estamos brincando de deuses hoje.

Sethrall abriu a boca — não para cantar de imediato, mas para deixar o próprio ar ao redor dele se tornar espesso, quase líquido. A atmosfera vibrava como se tentasse virar água pesada antes que qualquer som surgisse. Quando a nota finalmente escapou, uma vibração suja rasgou o espaço, e as sombras dos Guardiões começaram a se mover sozinhas, projetando versões distorcidas deles mesmos, passos que eles não deram, gestos que sequer tentaram fazer.

— Toda vida tem uma nota exata… — disse Sethrall, com voz que parecia vir de dentro da própria rocha — …e eu só preciso encontrar a que faz vocês desmoronarem.

O solo sob seus pés ondulou milímetros, como se respirasse fora do ritmo do mundo, enquanto as sombras tremulavam como bonecos puxados por fios invisíveis.

Do outro lado do campo, Nahem avançou, e tudo ao redor dele se tornou errado. O metal da montanha, que deveria vibrar com as explosões ao redor, ficou mudo. O ar, que deveria carregar choque e impacto, silenciou completamente. Quando ele deslizou os dedos pela pedra, deixou um rastro que não produziu qualquer som, nem mesmo o atrito natural — era como se a existência estivesse sendo apagada no contato.

A poeira que subiu com o movimento não caiu de volta; ficou suspensa, presa dentro da ausência de som que ele carregava.

— Gritos, preces, ordens… — murmurou Nahem, com calma perturbadora — …tudo termina igual dentro de mim.

— Só sobra o silêncio. Só sobra eu.

A cada palavra, o espaço ao redor dele vibrava de um jeito errado, ondulações transparentes que pareciam tentar colapsar.

E então veio Vyrik, movendo-se com velocidade que não parecia respeitar o tempo. Ele não apenas se dividiu em três sombras — cada uma delas terminava um movimento que ele ainda não havia começado, como se estivessem sempre um segundo adiantadas no futuro. Seus passos não seguiam linha reta; eram puxões diagonais, teletransportes minúsculos que cortavam o ar com estalos curtos.

O chão atrás dele ganhava cortes perfeitos, paralelos, simétricos — marcas tão precisas que pareciam feitas por lâminas calculadas, não por pés ou mãos.

— Velocidade não é correr — disse Vyrik, surgindo atrás de Sylas por um instante antes de sumir de novo.

— É chegar antes que o outro perceba que perdeu.

Um estalo seco marcou sua reaparição adiante.

— Sabe o que eu adoro? — ele completou, voz baixa, quase divertida. — A cara de alguém que descobre que já morreu… enquanto ainda pensa em se defender.

As três sombras convergiram, e por um instante o campo inteiro pareceu contrair antes de explodir em movimento.

Vyrik dividiu-se em três.

Movimentos sincronizados, agressivos, afiados.

— Vamos ver quem sangra primeiro!

Sylas respondeu com cortes de vento que dobravam trajetórias, empurrando Vyrik para trás com precisão irritante.

— Sua velocidade é ótima — provocou Sylas — pena que o vento não segue suas regras.

Vyrik clicou a língua, irritado.

Sethrall abriu a boca.

O canto saiu como metal vibrando dentro de água suja.

A visão de todos tremeu brevemente. As sombras mudaram de lugar sem se mover — como se outra versão da montanha estivesse tentando se sobrepor.

Tharon esmagou o chão.

A onda sísmica desfez o canto.

— Aqui, sua música não ecoa.

Sethrall apenas inclinou a cabeça.

— O silêncio faz companhia melhor que você imagina.

Nahem moldou uma lâmina de ausência. Não era sombra — era falha.

O espaço ao redor do ataque tremia sem produzir som.

Qualquer coisa que entrasse naquele raio simplesmente deixava de existir por um momento.

Naerion girou a água como espiral defensivo — e a lâmina cortou o fluxo sem respingo, sem impacto.

— Fascinante — murmurou Nahem. — A água tenta preencher… até o vazio.

— E ainda assim… segura vocês — respondeu Naerion, firme.

Vorien desapareceu.

Quando voltou, mirava diretamente o núcleo do ritual.

Arden virou no último instante.

A lâmina de Vorien riscou a Solar Pyra — uma linha brilhante que quase partiu o peito da armadura.

Vorien o encarou com frieza absoluta:

— Comandantes sempre morrem porque acham que enxergam tudo…

Arden respondeu apenas:

— Eu não morro enquanto o mundo estiver em pé.

A FORÇA QUE TENTA NASCER

O portal retesou, como se algo empurrasse a própria fronteira do mundo.

Desta vez, não parecia batida.

Nem respiração.

Parecia intenção decidida.

Uma vontade massiva empurrando a fronteira da realidade.

Kaelor caiu de joelhos.

O símbolo central da Glacien Rune apagou por um segundo — tempo suficiente para Arden sentir o pânico subir pelo peito.

Arden deu um passo para ampará-lo, respiração presa, tentando não perder o equilíbrio da formação.

Um estalo profundo — como rocha cedendo por dentro.

Naerion perdeu o controle de um dos anéis d’água; o fluxo espirrou para o lado, irregular, antes de ele forçar tudo de volta ao eixo.

A montanha gemeu baixo — um som abafado, quase humano.

Lyssandra ofegou quando a rede viva tremeu sob seus pés.

As raízes vibraram pedindo mais força do que ela podia oferecer, esticando a rede viva até quase romper.

Uma labareda curta estourou ao lado — Sylas sentiu o vento endurecer, como se empurrasse uma parede invisível.

Ele fechou os dedos, forçando o ar a obedecer.

O cheiro de pedra queimada tomou o ar.

O portal estava pressionando as margens do mundo.

Rhaen sangrou pelo nariz; a faísca em sua mão oscilou como vela à beira de apagar.

Arden percebeu o desespero rápido nos olhos do amigo antes que ele escondesse com um sorriso torto.

O chão vibrou sob as botas.

Tharon tremeu — não de medo, mas porque sustentava a montanha inteira com os músculos e a alma.

E Arden…

sentiu todos eles.

Cada falha.

Cada rachadura.

Cada respiração falhando no exato mesmo instante.

— Fiquem comigo — murmurou, mais para que eles ouvissem sua voz do que para dar comando. — Não deixem o portal escolher quem cai.

A pressão no ar mudou de direção, como se Phantom tivesse prestado atenção.

Arden foi o único que não caiu.

Mas o fogo dele escureceu.

— FOCO! — sua voz cortou o peso no ar. — O núcleo depende de vocês!

O impacto invisível recuou.

Por um instante mínimo.

O bastante.

O PREÇO

O núcleo brilhou.

E começou a drenar.

Não energia.

Essência.

Criaturas evaporaram.

As sombras encolheram.

As Armaduras Lendárias começaram a perder cor.

Naerion arquejou — a água dentro da armadura desaparecia.

Arden sentiu o peso no ar mudar.

Algo estava escolhendo quem quebrar primeiro.

Kaelor segurou a runa rachada, evitando desmoronar.

A água perdeu forma; o medo ganhou forma nos olhos de Naerion.

Lyssandra viu pétalas de luz caírem de sua armadura.

Rhaen quase apagou, sustentando o raio com a mão trêmula.

O vento se distorceu; o cheiro de ferro queimado tomou o ar.

Sylas mantinha vento rasgado, pura força de vontade.

Tharon apertou os dentes até sangrar para manter a montanha firme.

Arden…

Arden sentiu sua alma ser puxada como último pavio de uma vela.

Mas estabilizou o núcleo.

Porque se ele não o fizesse, tudo se abriria.

A QUEDA DOS GENERAIS

O ritual puxou com força imparável.

Erebos foi engolido primeiro, sem direito a ruído.

Shyren tentou marcar uma runa final — Lyssandra a quebrou com raízes vivas.

Mal’kara dissolveu-se em poeira fria.

Vyrik tentou cortar o próprio corpo para se ancorar — inútil.

Sethrall soltou uma nota que nunca terminou.

Tharon chocou a palma no chão e a silenciou.

Nahem entrou no vórtice sem pressa, como quem espera reencontrar alguém.

Vorien resistiu mais que todos, encarando Arden como promessa silenciosa:

“Eu volto.”

E sumiu.

O ar ficou parado.

Como se o mundo esperasse uma sentença.

Phantom insistia no outro lado.

Sem forma.

Sem som.

Apenas decisão.

O SACRIFÍCIO DE ARDEN

Arden entendeu.

Se todos dividissem o ciclo final…

Todos morreriam.

Se ele assumisse sozinho…

O selo teria a chance de fechar.

Ele deu um passo.

Depois outro.

Pousou ambas as mãos no núcleo.

O fogo sumiu.

A armadura apagou.

A vida escoou.

— Eu seguro o último ciclo. — Sua voz saiu baixa, mas firme. — Salvem o mundo… uma última vez.

Lyssandra gritou.

Rhaen tentou avançar.

Tharon rugiu tentando impedir.

Arden olhou cada um como quem guarda rostos pela última vez.

— Obrigado… por nunca me deixarem carregar sozinho. Mesmo agora.

o som da risada deles na primeira missão ecoou na mente dele.

E empurrou tudo o que restava de si.

O núcleo explodiu em luz.

O portal fechou.

A montanha caiu no silêncio.

O Véu reescreveu tudo como “tremor noturno sem danos”.

Na realidade…

Os Guardiões jaziam imóveis.

Sem armaduras.

Sem vida.

As Armaduras Lendárias desapareceram dentro do selo — adormecidas até um novo ciclo.

A guerra terminou ali.

Por enquanto.

SÉCULOS DEPOIS — A SOMBRA MOVE-SE DE NOVO

A montanha permaneceu quieta por eras, como cicatriz esquecida.

Até três encapuzados subirem a trilha com fragmentos proibidos:

as Chaves da Ruptura.

Eles iniciaram o ritual — cânticos baixos, cinzas vivas, sombras que recusavam luz.

O selo resistiu.

Mas algo cedeu.

Não muito.

O suficiente.

Três pequenas entidades escaparam pela falha:

os primeiros arautos.

Fracos demais para atacar.

Perigosos o suficiente para alterar o destino.

A corrida recomeçou.

O PRESENTE

Passos rápidos.

Respiração cortada.

Metal batendo em metal.

Korran corre entre containers.

E contra o peito dele…

…pulsava a Primeira Chave.

O Véu encobria tudo.

Mas a guerra que começou naquela montanha…

estava desperta outra vez.