Final do dia
Assistir a uma facada em segunda pessoa — ou seja, tu é o alvo — é traumatizante, mas essa experiência pode ser pior quando engatilha uma memória de outra facada, de uma vez que tu viu em terceira pessoa, sendo desferida em alguém que tu amas. Apesar disso, esse gatilho também lembra como teu herói lutou antes de cair.
Essa estocada pela esquerda na cara foi imprudente e covarde, em um ângulo perfeito para levantar teu braço canhoto e desviar a lâmina para o lado e puxar teu adversário na tua direção enquanto o recebe com um chute no estômago usando a sola do pé.
O resultado não é o mesmo da memória. Como poderia ser? O inimigo que tu enfrenta não carrega uma faca na mão, é mais complicado que isso, o braço dele é uma faca. Uma lâmina em cada antebraço, como duas garras de aço, que passam o quê? Cinco centímetros do punho cerrado? O tamanho do pinto de Jairo Jorge no verão… haha, velho brocha, mas não é hora de pensar nisso.
Diferente de como foi com teu mestre, o resultado do teu movimento foram teu antebraço e tua mão sangrando por ter pego a lâmina diretamente, mas… ele sentiu o chute. Sentiu física e moralmente, pois logo em seguida veio com mais raiva fazendo cortes diagonais no ar.
“Como um caboclo tem essa audácia? Fica quieto e apanha, velho de merda” Foi o grito que ouviu no passado.
“Como um simples humano tem essa audácia? Fica quieto e apanha, piá de merda” Foi o grito que ouviu no presente.
Só que Tomás não sentiu medo e raiva. Desta vez, sentiu apenas raiva. Raiva, ira. Ele aceitou o desafio — e o dinheiro que vinha com ele — então não estava ofendido pelo proto-humano além do “trash talk” usual de uma luta combinada. Mas a memória, a memória sim, a memória pulsava em seu corpo e não o permitia sentir nenhuma dor física.
Ele fechou os olhos e se lembro do que seu galo véio fez naquele dia. Tomás tinha o nariz e o reflexo da mãe, é o que diziam, mas a cor, o cabelo e a agilidade eram do pai. Antes que o som do vento sendo cortado chegasse nele, mergulhou em um salto para a frente, à direita, desviando dos golpes. A aterrissagem foi com as mãos espalmadas e os braços rapidamente dobrando e o disparando novamente na direção contrária, enquanto girava o corpo em 180º e acertava com os dois pés no adversário.
O veio fez o mesmo movimento. Ele se lembra. Foi realmente audacioso. Foi bonito. A plateia — desta vez tem plateia, desta vez é uma luta, não um assassinato frio… afinal, todos estão ganhando para isso e concordaram com os riscos — a plateia comemorou o movimento. O adversário, não. Foi como na sua memória.
Um homem caído no chão, após ter dado de costas em uma cerca elétrica (e empurrado para a frente pelo pulso), e com a mão na costela, onde levou o chute, e com cortes feitos pela própria lâmina durante o processo.
— Parece que o Ferroada se ferrou, não é mesmo? Ha-ha-ha!! — foi o que gritou Bombcorn, com outra piada ruim que ainda assim faz o público rir por conta do seu carisma.
— UGH! Aaarrgg — mas o gemido alto e gutural em seguida… não foi de Ferroada, o adversário Proto-Humano de Tomás que tinha implantes de lâminas e espetos no corpo todo. Também não foi do homem careca usando couro e com tatuagens de serpentes que usou uma faca envenenada contra seu pai há mais de uma década atrás. Uma estocada só — ágil, forte, profunda, talvez no estômago, talvez no pulmão.
A sirene da polícia toca ao fundo. Tarde demais para salvar o homem. Tomás… não tem ninguém para tentar salvá-lo. Faz parte da luta. Se morrer, é acidente de trabalho, apesar de nunca ser bom para os negócios. Ferroada ainda tem um movimento final — perfura Tomás também com a outra lâmina, o joga para cima e o chuta com um pontapé, como se fosse uma bola de futebol.
Outro corpo leva choque hoje nas paredes dessa gaiola eletrificada com… eletricidade vermelha? Algo assim, mas Tomás tem coisas mais importantes para lembrar enquanto vaza pela barriga seu sangue e seu almoço, como fato de que pode ser a primeira vez que perde uma luta.
— USA ESSA MERDA LOGO, TOMÁS! PARA DE SER BURRO! USA ESSA PORRA DE XPTO! — uma voz feminina, adulta grita. Uma mulher, é a Srta. Rosa, Tomás reconhece a voz. Ela rola para dentro da gaiola uma seringa com um líquido verde e algumas coisas estranhas misturadas.
— Enfia esse troço no cu e levanta, filho da puta. Vencer de gente normal paga menos. Vem, usa essa merda e vem lutar comigo de novo. — diz Ferroada, impaciente, incitando seu adversário.
Tomás usa a pouca energia que está, leva o braço até acima a seringa e baixa a mão, desligando o despertador para se levantar da cama. É a manhã daquele dia, quando teve suas últimas horas para se preparar para uma das lutas mais importantes da sua carreira.
A República, naquela manhã
O som do despertador é só detalhe. Não dá para dormir direito naquela república. A casa principal e as dos fundos, tudo de madeira, rangendo. O barulho de manhã é infernal. Tomás já se ferrava de cansado quando lutava com gente normal. Como seria sua vida quando entrasse para o Circuito de Proto-Humanos? Aquela categoria de lutas onde só gente esquisita entra?
Enquanto colocava suas calças para ir tomar café, lembrou que uma vez assistiu a uma luta de Proto-Humanos e tinha o tal do Pata Queimada, um cara com fantasia ou implante de pelo de rato na pele, lutando contra… o que era mesmo? ET de Passo Fundo, um doido que dizia que era um alienígena que caiu em Pelotas durante a missão em que a Nasa lançou foguetes lá em 1966. Sabe, origem muito específica pra justificar uma doideira.
Só gente estranha, mas pagava mais. Ele tinha decidido enfrentar essa, o quão mais difícil deve ser trocar soco com uns estranhos assim para ganhar o dobro? Claro que nada. Nunca perdeu uma luta contra gente normal, não ia ser contra gente esquisita que perderia. Uma flauta desafinada e um tambor sem ritmo tocam lá da cozinha. O barulho irritante aumenta com a proximidade e Tomás se pergunta se não deveria abandonar a cafeína só para evitar esse tipo de convívio.
— Essa cara de cansado aí, meu? Dando o cu a noite inteira, viadão? — pergunta Jairo Jorge
—Nada de palavrão à mesa, Seu Jorge! — Responde Dona Amélia — Além disso, Tomás é um menino educado, gosta de meninas. Não que seja errado meninos gostar de meninos.
— Importante, Dona Amélia, é o equilíbrio entre os polos em um casal. Se o cara tiver energia feminina e o outro masculina, pronto. — Diz Ulisses, que tira a flauta da sua boca para falar.
— Energia o que? Fala que nem gente, piá de merda. — Responde Jairo Jorge.
— Sem palavras de baixo calão, Jairo! — Fala Dona Amélia.
— Ok, tudo bem, família. — Diz Bianca pela primeira vez, enquanto repousa as mãos sobre o tambor.
— Nós não somos uma família, Bianca. — Reclama Tomás.
— Claro que somos! O mundo é uma família, nossa pequena comunidade é uma família. — Afirma Bianca.
— Verdade, minha querida orquídea, apesar dos desacordos, somos como uma família. Moramos juntos, comemos juntos. Vocês são como netos para mim. — Dona Amélia responde.
— E aproveitando que estamos em família… temos notícias a contar. Uma nova pessoa está vindo! — Anuncia alegremente Ulisses.
— Uau, como tu já sabia, bichinho? Eu nem tinha contado ainda. — Responde Bianca, suas bochechas brancas ficam rosadas, nervosa com o grande acontecimento sendo revelado dessa forma.
— Como assim, meu amor? Estou falando de mim! Eu, Fernando Ulisses, agora sou uma nova pessoa! Quero anunciar que eu abandonei completamente o curso de Teatro! Agora, vou para a escola da vida!
— Ahn?
— Haha!
paft
— Que bom, querido, eu acho…
Bianca se assustou em decepção, Jairo Jorge riu da fala e da reação, Tomás simplesmente espalmou o próprio rosto e Dona Amélia disse qualquer coisa que pudesse ser simpática.
— A gente não conversou sobre isso… — comenta Bianca preocupada, esfregando a mão sobre a barriga.
— Eu queria fazer uma surpresa, pensei que tu fosse ficar feliz por mim, amor, me apoiar…
— Que merda, hein?
— Poxa vida, Seu Jorge, dia poxa vida em vez de que merda!
— Ah ta bom. Poxa vida. Eu não estudei porque não podia, daí virei taxista, mas pelo menos aprendi a dirigir, arrumar cano, sei me virar. Aí tu abandona os estudos, que já iam ser uma bosta pra ganhar dinheiro?
— Ha, esse daí não precisa se preocupar. A mesadinha do papai tá sempre em dia. — Comenta Tomás.
— Aah, não, gente. Já disse para vocês que não quero mais depender do meu pai. É por isso que saí, vou começar minha própria companhia de arte de rua. — Responde Ulisses.
— Mas o Seu Thiago vai investir em ti, não vai? No teu negócio? — Pergunta Dona Amélia.
— Não, vou começar do 0! Só eu, o apoio da minha amada, que espero que deixe a biologia também por mim, e nosso talento de música e teatro. — Diz Ulisses.
— E por que abandonar a faculdade nesse processo? — Questiona Tomás.
— Porque meus professores não me compreendem, não me apoiam e não reconhecem meu talento. Meu pai me deu até o final do ano para iniciar um negócio realmente promissor ou pegar um emprego no escritório de contabilidade do meu irmão ou ele não vai mais me dar nenhum centavo.
Uma cadeira se arrasta com força. Bianca se levanta e sai, passando a porta dos fundos para o terreno de trás da República, e se dirige à casinha em que mora com Ulisses.
— Tu tá fodido. — Fala Jairo Jorge, rindo.
— Palavrões, seu Jorge!
Ulisses fica olhando para Bianca enquanto ela se afasta, incrédulo com a reação. A tensão do local cresce com o barulho irritante do celular de Tomás tocando. Ele pega sua xícara de café e vai para o quarto atender a ligação.
— Sim, Verônica?
— Irmão, tu tem um tempinho? Me encontra na Rosa Branca? A patroa me mandou fazer umas entregas e precisa de uma ajuda.
— Bah, só porque é pra ti…
Passeio com Verônica
A Cidade Baixa é o bairro boêmio de Porto Alegre. Antigamente, era onde ficavam os quilombos e desde então há uma disputa pelo espaço. Todo mundo sabe que é onde acontece as festas populares, o carnaval de rua, pessoas de baixíssimas a média renda fazendo barulho e bebendo. Ao mesmo tempo, a pesar da barulheira secular e dos imóveis caros, pessoas que querem uma vida mais tranquila se mudando para lá e exigir que as autoridades dispersem as confusões.
Tomás está parado em frente a uma casa branca com detalhes magenta, em especial no marco da porta. Algumas mulheres saem e entram, e o cumprimentam de diversas formas, mas sua reação é sempre a mesma. Pequeno sorriso e aceno com a cabeça.
Uma jovem ruiva, de sardas no rosto, usando uma calça jeans verde e uma blusa de manga comprida branca sai da casa. Ela carrega nos ombros uma jaqueta de couro com escamas e em cada mão um capacete, sendo um dele verde-musgo com detalhes brilhantes vermelho.
— Jaqueta legal.
— Gostou? Feito do couro do jacaré que a gente pescou mês passado. Aproveitando, por que tu fica dizendo para as pessoas que tu quem matou o bicho?
— Porque fui eu… obviamente.
— Hmm, quem pulou na água atrás dele?
— Tu caiu tentando fazer pesca magnética! E teria caído outras vezes se eu não tivesse te segurado.
— Não me arrependo, encontre umas coisas da hora no rio aquele dia. E eu pulei porque vi o jacaré. E quem foi pra cima dele?
— Tu não tava enxergando nada!
— Quem subiu nas costas dele?
— Onde está a dificuldade?
— E quem enfiou uma katana no crânio dele?
— Era uma katana feita de aço de alta qualidade e tu teve sorte de atravessar e prender na terra embaixo do bicho, daí ele ficou cravado, nada demais.
— Eu mesma encomendei a espada com base em um desenho que recuperei numa expedição uma vez. Meu orgulho, é o mínimo de uma colecionadora super competente como eu. E aí, o que tu fez enquanto eu matava o jacaré?
— Pulei na água e cravei de novo a katana! Tu ficou na margem contando vantagem e não viu que o bicho tinha se soltado. Se não fosse eu, tu não teria feito nada. Eu quem matei o jacaré, eu quem salvei tua vida, eu quem te ajudei a coletar o aço dessa katana, eu quem…
— Bla, bla, bla, sempre assim. Olha, Tomás, tu é muito chato. Se eu não fosse tua melhor amiga, aliás, única, tu não teria nenhum contato com mulher ou qualquer ser humano. Nem as puta da tua mãe te aturam e olha que se esforçam. Aliás, tu precisa de uma namorada pra ver se fica menos chato.
— A Srta. Rosa não é minha mãe.
— Ah, whatever, mas tu é o preferido dela. Toma aqui — Verônica entrega o outro capacete para ele, um preto cheio de espinhos. — Era do meu ex, ele era fã de HellBlazer.
— O que aconteceu com ele mesmo?
— Foi demais atrás do que eu trabalhava e, bem, o Submundo não é lugar para gente como ele. Agora, sobe na lambreta, temos muitas caixas para entregar hoje. — Diz Verônica montando na lambreta e apontando para que Tomás também subisse.
— Eu queria saber como tu consegue andar com esse tipo de carga em plena luz do dia, a céu aberto, e não temos problema nenhum com outras facções ou de romper o Véu da Ignorância. — Questiona Tomás subindo na moto.
— Esse é um dos truques que tu aprende quando é uma marmota e uma colecionadora ao mesmo tempo. Justamente por estarmos tão expostos à superfície que estamos mais seguros. O único tipo de pessoa que sabe que tipo de coisa uma marmota carrega é gente do Submundo, que nem nós, e tentar roubar uma carga nessas condições aumenta muito o risco de expor os objetos às pessoas da Superfície e ninguém quer ser responsável por isso.
— E o que estamos entregando hoje, mais especificamente?
— Ah, umas doses de XPTO, um lobinho de pelúcia e… aquele baú ali, não lembro o que tem nele.
— Nada pesado, viagem segura, por que tu precisava da minha ajuda?
— Eu não preciso da tua ajuda, a Srta. Rosa ME pediu ajuda contigo, para evitar que tu fizesse merda.
— Que tipo de merda estamos falando?
— A tua estreia hoje no Circuito de Proto-Humanos, na primeira partida de tentativa de ingresso, contra o Ferroada.
— Foi ela quem deu a ideia, escolheu o adversário e marcou a luta. Não tem por que ela se preocupar.
— Ela tá preocupada porque tu é burro e vai fazer isso de uma forma burra. O Ferroada é um cara com o dobro da tua altura, espinhos e aros de metal saindo pelo corpo todo, deve ter usado um XPTO, ao menos um comum, de melhoria de habilidades físicas, e tem basicamente uma lança de aço em cada braço.
— Caguei, venço em dois tapas.
— Tapa na tua fuça. Para de ser estúpido. Encomendamos um XPTO para ti, reforçado, que vai te dar ao menos mais agilidade e força para tuas piruetas. Queríamos te dar um XPTO Avançado, mas vai saber o que botam nessas merdas e tu ia dificultar ainda mais.
— Eu não preciso de drogas para vencer, Verônica. Eu só preciso da minha força e habilidade. Ninguém venceu de mim até hoje.
— Tá bom, Proerd. Mas ao menos para não morrer precisa.
Verônica desacelera e para a lambreta na frente de um edifício super-moderno, alto, com portaria eletrônica sofisticada. O portão da garagem abre para entrarem. Os dois descem, a menina ruiva aponta para uma das caixas na parte de trás da lambreta, Tomás pega. Se dirigem ao elevador.
— Comprar pelúcias pelo Submundo é o tipo de coisa que ninguém acreditaria se alguém dissesse que é algo que acontece.
— Não é qualquer pelúcia, Tomás. É um Fenrir de pelúcia feito em uma edição especial no começo das coleções de criaturas nórdicas diretamente na Rússia, durante a União Soviética, e dizem que tem pêlos de lobo reais costurados.
Os dois entram no elevador.
— E como tu conseguiu isso?
— Estava em uma máquina de pegar bichinho em um posto de gasolina antigo no Morro dos Namorados lá na Zona Sul.
Os dois saem do elevador, se dirigem a uma porta e Verônica aperta a campainha.
— Sabrina? Verônica aqui, entrega do Grupo Roseiral.
— E tu quem foi lá buscar?
— Claro, são 3 chances por pessoa, 1 vez por ano, e eu sou a melhor coletora desse tipo de objeto. Ao menos do nosso grupo e entre vários em Porto Alegre…
— Mas Verônica, se é algo tão valioso assim, por que simplesmente não apenas quebra o vidro da máquina de bichinho e pega? Tu já roubou e fez coisas muito piores.
Enquanto Tomás falava, a porta se abriu. Uma jovem com pele pálida, olhos violeta, loiro quase prateado, e roupa preta estava ali parada olhando para eles. Apesar de bonita, seu olhar era gélido, acertando a espinha de todos e dando a sensação de estarem no ar condicionado -7º. No ombro dela, uma harpia brasileira com olhar penetrante e intimidador, mas que, na verdade, era um bicho de pelúcia com uma presença desconfortável. A moça colocou a mão no braço de Tomás, o olhou de forma fixa e direta, e disse.
— Um conselho, moço. Jamais encare a máfia dos bichinhos de pelúcia. Encara um cartel de drogas, mas jamais tente burlar ou quebrar uma dessas máquinas. — Em seguida, ela olhou para as próprias mãos, cheias de cicatrizes, e, então, para Verônica e para a caixa. — É isto?
— É, sim, Sabrina. Vi que tá curtinho a Harpia também. Aliás, a Srta. Rosa disse que fora, informações, e fornecer quartos da Rosa Branca e da Rosa Negra para a troca de objetos, não faremos mais colega e entrega de pacotes. — Disse Verônica, entregando a caixa.
— Aah, que pena, o serviço de vocês é tão bom… Eu já estava com o próximo na lista.
— Sem problemas, pau no cu dela. Eu mesma faço o serviço, pode tratar diretamente comigo. Meu número tu já tem. — Respondeu Verônica.
— Claro, vou te chamar quando eu quiser um bichinho novo. — Sabrina se virou para Tomás com olhar bem fixo e um sorriso de canto de boca. — Obrigada por tudo. — E se virou para entrar.
No elevador, Tomás comenta.
— Não sei se foi uma ameaça ou o flerte mais macabro que já vi.
— Os três.
Subindo na moto, Tomás pergunta.
— O que tem nessa bosta?
— O XPTO é uma substância que mistura o fungo que pegaram no foguete da Nasa, naquela missão em Cassino há um século, com um líquido verde. Não sei os detalhes, mas tu alimenta o bicho, injeta no teu corpo, tuas próprias células absorvem o fungo e pum, harder, better, faster, stronger.
— E aparentemente é bem popular, considerando a caixa bem cheia.
— Às vezes misturam coisas extras, chamamos de XPTO Avançado. Quando inventaram, era super popular. Todo grupo tinha um Proto-Humano assim, era que nem NFT, Bitcoin… algo super valorizado em marketing. Mas tem seu uso de fato.
O passeio continua até fazerem todas as entregas e Verônica deixar Tomás na frente da República. Ela entrega a ele uma pequena caixinha.
— Sério, Tomás. Essa edição especial de XPTO pode mudar o resultado na tua luta.
— Eu já disse que não vou usar essa merda. Eu não preciso disso, nunca precisei de coisas assim.
— Só pensa. Ao menos pega, ou eu quem vou ouvir. Ah, e tem isso aqui para ti também. — disse Verônica entregando outro pacote. — Presente meu, tua roupinha de estreia.
— Eu já tenho roupa para minhas lutas. Qualquer uma confortável.
— Tomás, é o teu favorito. Jeans, bota, camiseta preta e casaco-moletom vermelho. O canguru não rolou, mas é quase um. A diferença é que o material é diferenciado. Fibra de teia de aranha produzida no leite de cabra. Não me olha assim, se tu parar agora, pegar o celular e pesquisar, vai ver que existe isso sim. Bom, esse material é um ótimo contra cortes e outros danos, vai ajudar na luta.
— Ok, ok, obrigado por tudo… — Tomás pega os pacotes e entra na República, onde ouve gritos de casal.
A República parte 2
— PENSEI QUE TU APOIAVA A MINHA ARTE!
— E EU APOIO, POR ISSO QUE NÃO QUERIA QUE TU LARGASSE A FACULDADE!
— E A MINHA EXPRESSÃO? A MINHA INDIVIDUALIDADE?
— ULISSES, COMO VAMOS VIVER JUNTOS ASSIM?
— OLHA, BIANCA, SINCERAMENTE! ESPERAVA MAIS DE TI!
Essa é a recepção que Tomás tem ao chegar em casa. Ulisses sai puto, passa por ele no corredor, mas antes de abrir e sair pela porte, pergunta:
— Tomás, vamos tomar uma cerveja?
— HMMmm, sem tempo. Foi mal.
Tomás ouve o choro lá no fundo, vindo da cozinha, mas seu quarto é uma porta à esquerda antes. Aparentemente, ninguém mais estava na República. Tomás, silenciosamente, ou o máximo que conseguia com aquela madeira toda rangendo, entrou no quarto e fechou a porta.
— AAAAAHHHHH — o barulho de choro ficou mais próximo.
Tututú — o celular de Tomás recebe notificação. Ele abre a mensagem que diz. “Ah, me enganei, esse XPTO aí não é especial não, tava separado para descarte. Não usa essa merda, pode te matar.” “E só agora que tu me avisa?” Respondeu Tomás.
O lutador abre o estojo e vê a seringa com o líquido verde e o fungo dentro. São hifas grandes, espalhadas pelo interior do vidro, se mexendo. Lembram uma criatura de filme de terror ou até o blob, aquele ser vivo que ninguém sabe o que é. Ou ele não sabe o que é.
— AAHHhhh — o choro para na porta.
Tomás para de se mexer, prende a respiração, fica em silêncio total, parado. Olha à volta, vê que sua luz tá apagada, ufa. Porta? Porta não está trancada, droga. Ou não, se tivesse trancado por dentro poderia denunciar sua presença ali. Mas, bem, agora, não pode fazer nada, apenas ficar quieto e esperar que..
— Tomás, tá aí? — perguntou Bianca com voz de choro.
Ele permanece quieto.
— Tomás, preciso conversar um pouquinho, tá aí?
Ele permanece calado.
— To vendo que a porta tá destrancada, então, vou entrar, tá? — Bianca abre a porta com seu rosto choroso e ranhento. Tomás fica incrédulo com a invasão e está pronto para dar um corte nela, mas suspende ao ver o rosto.
— Oi, Bianca.
— Oi, se tu não te importa, vou sentar aqui. — Ela senta na cama ao lado de Tomás. — UAahhh. Por que ele tem que agir assim?
— Bom, Bianca, eu…
— Eu sempre apoiei ele em tudo, já deixei de estudar para prova de genética para assistir apresentação dele, fiquei até tarde ajudando a ensaiar a flauta…
— Ensaiaram? Impressionante, imagina se não…
— Verdade, né? Parece que ele é talentoso de nascença, mas sou eu quem ajudo ele para tocarmos juntos. Eu não quero que ele abandone a arte e a expressão, só quero que ele tenha um pouco mais de compromisso com algo, pelo nosso futuro juntos.
— Um vagabundo completo!
— Exato, um romântico incurável, um vagabundo poeta, um artista pleno do seu talento. Não é isso que questiono, mas se os professores não enxergam a arte dele, como ele espera que pessoas aleatórias deem moedas o suficiente para pagarmos sequer aluguel?
— Bom, é que talvez tu não devesse pensar num futuro com alguém assim…
— Sim, eu sei que tenho que fazer minha parte, não estou falando de ser sustentada por ele. Eu estudo biologia, pago minha parte do aluguel com a bolsa, ele é um homem incrível, vale todo o esforço.
— Bianca, preciso trocar de roupa para sair…
— Claro, eu viro para o lado. — Bianca se levanta e fica de costas, enquanto continua chorando e falando. — Eu queria muito contar uma notícia ótima para ele, mas que ao mesmo tempo está me deixando insegura demais. Agora, já não sei o que fazer com isso.
— Realmente, Bianca, muito triste, eu só consigo imaginar. — responde Tomás colocando sua nova roupa.
— Eu acredito nele, sei que ele vai esfriar a cabeça, pensar melhor no que aconteceu e cegar a uma conclusão razoável, vir para casa e conversarmos.
— O golpe tá aí, né?
— Verdade, cai quem quer. A vida é cheia de golpes, como esse, mas sei que eu e ele não cairemos. Mas assim, acho que se ele conversasse com um amigo em quem ele confia, e que desse uns conselhos a ele, tenho certeza que melhoraria a situação. Posso me virar?
— Pode.
— Tomás, ele realmente precisa de uma palavra amiga de alguém, de uma pessoa importante e próxima. Ele está afastado da família que não apoia muito o estilo de vida que ele tem após os 30 anos, então ele precisa de um amigo homem, que o faça enxergar, ele vai escutar melhor. — Diz Bianca, colocando a mão no ombro de Tomás, que dá uma recolhida. As pessoas estão com uma mania estranha de tocar nele hoje.
— Tá bom, Bianca, se eu pensar em alguém assim eu te falo. Só que — bii, bii, uma buzina toca lá na frente — eu realmente to de saída. Preciso ir trabalhar. — Nesse meio tempo, Jairo Jorge chegava na República e ouviu a última fala, então, gritou enquanto passava pela porta.
— Engraçado que um filho da puta trabalha no puteiro.
— Uau, muito engraçado mesmo, Jairo. — Retrucou Bianca. — Não liga pra esse velho. Tá pior desde que começaram os aplicativos, pois não pega mais tanta corrida pelo táxi. Tu vai para o trabalho? Aquela… casa noturna? Posso ir junto, para não ficar sozinha?
— Desta vez o trabalho é na rua. Fica pra próxima. Agora, se me dá licença…
— Claro! — Bianca e Tomás sai, este fecha a porta e sai correndo da casa. Na frente, um audi preto com faixas rosa choque espera por sua chegada. Era Srta. Rosa.
Drug Rush
Mais cedo, quem passou por aquela porta foi Ulisses… Se Dona Amélia tivesse escutado a batida, o guri teria ficado horas escutando reclamações. Provavelmente teria algo envolvendo multa ou algo assim. Só que aparentemente não ficou dano algum e dane-se também, isso não importa mais.
O que importa é tentar se acalmar. Ele acabou de tomar um passo importante na jornada para se tornar um grande artista e ser reconhecido pela sua genialidade. Foi um salto de fé? Foi. Mas é a fé em Jah que nos trouxe aqui, é a Fé em Jah que vai nos levar lá. Bianca não entende, faltou com confiança nele, mas, tudo bem, ela pode só estar preocupada.
Se acender a pontinha de camarão que está no bolso vai deixar tudo melhor. Vai relaxar, vai ficar bem. Ulisses pega aquela metade de perna de grilo, acende e fuma. Está tudo bem, está tudo ótimo. Está gostoso como estava há uma hora, continua gostoso.
Mas vai acabar, né? Bah, que saco… já já acaba, e daí vai voltar pra casa e a Bianca vai estar bem né. Relaxado… mas se não? Pode ser que ela esteja com raiva ainda e jamais compreenda. Ela também não entenderia, não sabe como é ser cobrada todos os dias pelo seu pai para arranjar um emprego.
Bianca nunca teve ninguém incomodando assim. O pai dela é porteiro, a mãe merendeira, já estão felizes o suficiente que ela está na faculdade e é a primeira da família. A vida dela é sem pressão, tranquilidade, vai fazer biologia e ser professora. Poh, quem não quer 2 meses de férias todos os anos?
AH, mas era pra ta calmo né? O Beck… ta dando bad, o coração tá acelerando, não tá dando bom esse, talvez algo para molhar a garganta. No bolicho da segunda quadra tem, preciso pegar logo, whisky barato, 5 a dose. Precisa acelerar, acelerar, acelerar, acelera-a merda não viu a faixa? Um fusquinha quase atropela Ulisses, que viagem cara ahahaha.
— O que vai querer Ulisses?
— Que?
— Tu tá há 5 minutos me olhando aí na porta, quer alguma coisa?
— Sim, já disse.
— O que?
— …
— Fala logo, caralho.
— Um copo.
— Um copo de quê? De cerveja, de café, de porra?
— Whisky seu Carlos.
— Quem é Carlos? Tá toma essa merda. Vai passar cartão? Toma aqui na máquina. — Seu carlos digita 13. — Hehe faz o L agora hehehe hehehe.
— Valeu — Ulisses bebe numa talagada e volta para a rua. Olha para a direita e vê o sol ao longe. Acho que vou ver ele dando tchau.
O sol parece uma bola de fogo né? Mas na real, tá ligado que não é? É acho gás hélio, algo assim. — FILHO DA PUTA, AH — Ulisses tropica na árvore. — Saco sempre. Mas desculpa Alvaro — Ulisses abraça a árvore.
A caminhada está mais lenta do que o normal, meio sinuosa. AS pessoas olham estranho para ele, uma criança passa de bicicleta rindo, ele tá cagado por acaso? TAlvez esteja, tem algo pesando nas calças. Ah, é o corpo. Tudo está pesado, lento, menos sua testa, franzida com força sem parar. Puta que pariu, Bianca, por que tu tem que ser essa vadia aproveitadora? Só tá comigo porque sou filho de rico, eu devia ter ouvido a mamãe. Essas puta vem do interior só para ficar com rico de cara de trouxa. Mas ele sempre disse que faria o dele sem depender do pai. Meu kkk pq tem um cachorro atrás daquela placa? ahahahahaha. O cachorro tá acenando o rabo, o que acontece se eu me aproximar? Ele ta ficando longe.
O cachorro ta cada vez mais longe, cada vez mais, espera seu doguinho. Oh, vamos pegar uma coisa aqui pra ir mais rápido e pegar esse cornorro kkk o cãorno. Tá dentro do tenis o saquinho, aaha é mais branco que eu esse pó, é só encaixar na pipeta, encostar no nariz e vupt, vira o flash agora.
Os pés tão agitados, vai pegar esse cachorro. Ta indo, to indo, tu indo, quase lá e oooh peguei o cusco. Carinho no cusco ahahaha ele mordeu o dedo e saiu correndo tá sangrando agora aahahaha. AH cara, ah. Ahahahahahaha. vou lamber para parar de sangrar kkk.
— Qual ééee Ulisses.
— Ih, mano, o cusco tá falando.
— Que mané cusco, mano, sou eu. — Um cara de dois metros, usando dreads e um quipá vermelho.
— Mano, que chapéu doido kkk. Éric, tu sempre tá com parada doida. Tá com coisa aí pra mim? — Diz Ulisses apontando com a mão trêmula.
— Não, mano, eu entrei kk pra kkk pra Cabala do Gnomo. Quer se juntar? — O homem abre a mão com uma pílula circular vermelha com pontinhos brancos. — AH, CARALHO, O QUE TU TA FAZENDO? — gritou o rapaz enquanto Ulisses mordeu a mão do homem onde estava a pílula e engoliu, ainda deixando cortada a mão.
— TE FODER, MANO, TO VENDO GNOMO NENHUM AINDA — Ulisses dá um chute no meio das pernas do outro, uma cabeçada na boca dele e sai correndo em direção ao na direção do sol de novo. — QUE MERDA, OUTRO CARRO TENTANDO ME MATAR.
Uma carroça passou correndo por Ulisses. As poucas pessoas na rua naquele momento, naquele lugar, se esquivavam de Ulisses, que babava e grunhia coisas inaudíveis. Seu rosto desperta, os olhos brilham, um sorriso de ponta a ponta se abre. Um gnomo, cara, um gnomo, ele tá acenando.
Não fuja, amigo gnomo, onde você está indo? Vamos assistir o pôr do sol juntos, amigos. Ah, está me mostrando onde tem mais, entendi. Vamos juntos, todos, amigos, vamos.
Ulisses saltita, corre, chuta um hidrante, cai de boca no chão, levanta, saltita, corre, pega um pacote de pipoca que estava voando, ouve gente comemorando por ele, se balança nas árvores do cosmo, corre, saltita, um grupo inteiro de gnomos no meio de um matinho que ainda existe lá na orla do Guaíba, perante aquele rio lindo, onde pode ver o sol se por, alaranjado, no horizonte, entre os barcos, junto com seus amigos gnomos que oferecem um cachimbo com uma pedrinha branca mágica.
Uma baforada.
Duas baforadas.
Três baforadas.
O sol… os gnomos… era um recado… o sol… está caindo, é uma bola de fogo, e é preciso Ulisses ir correndo para casa agora para avisar para aquela filha da puta que ela é uma vadia de merda querendo atrapalhar sua vida e ser uma âncora na sua paz interior. E precisa fazer isso antes que o sol caia e mate todo mundo.
“E todo mundo é meu também” — No rádio do carro de Srta. Rosa toda aquela música clássica da banda dos Tribalistas. Tomás não curte, está enjoado porque ela sempre bota a mesma playlist no carro.
Carona com Srta. Rosa
—Sério, tu não tem mais nada para tocar nesse rádio? — Pergunta Tomás, olhando puto para a mulher ao seu lado. Sua idade ele nunca soube, ela parece jovem de 30 anos, mas parece jovem de 30 anos desde que ele tinha ao menos 16.
— E tu não tem mais nada para me falar, piá de merda? — Srta. Rosa levanta sua cartola de feltro escuro e faixa rosa com sua mão direita, coberta por uma luva de couro que vai até o cotovelo.
— Que tu tem gosto musical de velha porque é uma velha.
— AAAH! — sentada ao lado de Srta. Rosa, uma jovem de pele morena e cabelo cacheado se assusta.
— Velha é teu cu, Tomás. Que é, Camila?
— Desculpe, Srta. Rosa, é que nunca pensei que veria alguém falando com a senhora assim. — Camila baixa a cabeça, não olha Srta. Rosa nos olhos, mas por acidente acaba fitando os olhos no decote em v de Srta. Rosa, entre seu vestido midi de cetim de tom vinho, que contrasta com o cinto largo e o casaco longo marrom. — Nem mesmo a senhora falando esse tipo de termos.
— Meu bem… — Srta. Rosa, com sua fala aveludada, encosta o dedo sob o queixo de Camila e o levanta, para olhá-la nos olhos. — Realmente, não é o meu tom comum, mas… certas crianças recusam em amadurecer e precisam ser reeducadas constantemente. Desculpe por esse… “trauma”. — Srta. Rosa fita Camila olho no olho com seu delineado gatinho e sombra feita com batom líquido rosa, parecendo que entra na tua alma e inicia um incêndio lá dentro. — Espero poder te compensar depois.
— Ta-tá… — Camila treme um pouco e aperta bem as pernas, enquanto segura a saia. O calor logo é refrescada com o balde de água de uma risada.
— O QUE É, TOMÁS? — Pergunta Srta. Rosa, olhando para ele tão rápido que parecia carregar uma lança na pupila para cortar o pescoço dele fora.
— “Senhora” ahahahaha. “Senho-AI” — O bico fino do sapato de Srta. Rosa aperta o pé de Tomás.
— Não quero saber. Tu vai usar essa merda de XPTO sim. Já separei uma dose especial para ti.
— Especial? Diz um XPTO Avançado?
— Não, é o comum, que amplia habilidades físicas como os outros, mas esse só tem mais chance de dar certo.
— Como assim dar certo?
— Isso não importa, só que tu não é minha cobaia. Tu é meu lutador e preciso de ti sendo mais forte do que é. Até hoje, tu lutou no Ciclo de Lutas de humanos, venceu todas, muito bem. Só que o dinheiro e o poder moram no Ciclo de Proto-Humanos. Se tu quer mais grana e quer me ajudar a expandir meu poder, usa o XPTO.
— Eu consigo vencer o ferrugem.
— Ferroada.
— Qualquer merda assim sem usar isso daí. Tu falou que tem muito esquisito sem qualquer habilidade no Ciclo de Proto-Humanos.
— Eles tentam entrar, mas não avançam, no máximo ficam bem na base da pirâmide depois de muita sorte, já te falei.
— Eu não preciso de sorte, preciso de habilidade e conhecimento. O que mais eu preciso saber sobre meu adversário e a arena de hoje?
— Bom, o Ferroada tem lâminas e próteses de ferro espalhadas pelo corpo. Ele já era de fazer modificações corporais, mas foi patrocinado por uma fábrica… a Montino, de aço e lâminas para cozinha e churrasco. Ele tem uns espetos metido a besta pelo corpo.
— Isso não faz sentido algum.
— Só piora. Agora, sobre a arena. Será uma gaiola com uma cerca eletrificada com eletricidade vermelha.
— Vão mandar um cara com ferro no corpo todo para ser um para-raios? E eletricidade vermelha, o que é isso?
— Sei lá, talvez tu possa usar isso a teu favor. E isso é um produto de uma EnergoSubTech, que chamam, as startups de tecnologia em energia do submundo. Vou ler para ti o anúncio:
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— Pronto, só preciso dar um jeito desse cara tomar um choque e acabou tudo, venci a luta.
— Tomás... — Diz Srta. Rosa.
O carro para no destino: o Largo Zumbi dos Palmares. Um espaço largo, um estacionamento, onde ao redor há uma avenida, casinhas antigas e duas ruas com a entrada para o bairro boêmio de Porto Alegre, a Cidade Baixa. No centro, um círculo de cercas de ferro está com as portas abertas, rodeado por uma arquibancada montada, já cheia das 20 únicas pessoas com permissão para assistir isso ao vivo.
— Usa isso. — Srta. Rosa abre uma caixa, um estojo aveludado, na frente de Tomás, que gentilmente fecha.
— Está tudo bem. Só preciso correr, pois aparentemente minha torcida de absolutamente três pessoas além de ti e do Sr. Paulo — Tomás aponta para o chofer — já estão chamando o Roseiral, misturando com outros chamados… — Gritos ao fundo gritam diversos nomes. — menos o meu.
Volta de Ulisses
— Corre, então, corre, antes que dê merda! — diz Ulisses para si mesmo.
Pessoas na rua se afastam conforme aquela pessoa suja de sangue na boca, com dente caído, feridas em vários lugares do corpo, roupa suja e rasgada, tremendo o corpo como se dançasse o copérnico (mas balançando as pernas e os braços também, ou seja, dançando errado), corre de forma estranha. De forma reta, de forma oblíqua, certa vez até cai de costas e tenta correr para o céu.
— Aah, mas eu vou pegar aquela vadia antes que esse SOL EXPLODA o mundo. Mas vou falar tudo que tenho pra falar. E depois ela vai entender, pedir desculpas, me abraçar e vamos morrer juntos quando o SOL CAIR NAS NOSSAS CABEÇAS.
A última parte, “sol cair nas nossas cabeças”, saiu bem audível. Crianças na pracinha se assustaram, mas depois riram e ficaram repetindo a frase. Isso chegou aos ouvidos de Ulisses, como a voz de passarinhos repetindo e repetindo a frase. Eles estão rindo, pois poderão voar para longe quando isso acontecer.
— Grrrr…. Aurh, arugg — cachorros nas casas, nas coleiras na rua, e também os guaipecas soltos, latiam e davam corridões em Ulisses. Um chegou a dar uma mordida na coxa do guri, que retribuiu com um chute na cabeça e depois correndo mais rápido que os cachorros, apesar da ferida latejando.
Os demônios enviados do Sol não iam interrompê-lo de fazer o que tinha que ser feito. Ele precisava avisar a todo mundo e ao seu amor que o mundo ia acabar e precisavam fazer alguma coisa sobre isso.
— VAI BOTAR UMA ROUPA, MENDIGO! — Seu Carlos gritou do bolicho para Ulisses, que estava com a roupa toda rasgada, sem bermuda mais e a cueca por um fio. Isso, o que o velho da puta não entende, é o que dá mais dinâmica para que corra e salte sobre o carro que quase o atropelou agora. Ele foi salvo pela sorte, deve ser a LUA abraçando ele. Ela sabe o que ele deve fazer: avisar seu grande amor, Bianca, de que o mundo está acabando e eles precisam estar juntos.
Ulisses estava errado, a Bianca não queria magoá-lo nem é uma vadia. É um amorzinho, seu grande amor. Só está preocupada e desconhece o que tá acontecendo. Deve estar naqueles dias e seus hormônios mexendo com sua cabeça. Era só ela tomar chá de orquídea com mel que melhorava, ele já tinha ensinado a receita, mas pode ter acabado. Só pode ser isso, OU ELA É MESMO UMA GRANDE FILHA DA PUTA QUE — POW, POW, POW — TRANCOU A PORTA DA RUA PARA ELE NÃOO ENTRAR MAIS.
Ulisses jogava seu corpo contra a porta tentando abri-la. A maçaneta já não deu, então teria que empurrar com todo o corpo. Uma batida, duas batidas, três batidas, até que a batida foi na cara dele mesmo quando Jairo Jorge abriu a porta em sua direção, para fora.
— Que merda é essa, Ulisses? Tu não tem chave? Por que tá tentando arrombar a porta, seu drogadito arrombado? Ela abre pra fora, esqueceu?
— Não tenho tempo pra ti, seu merda. — Diz Ulisses para Jairo Jorge, passando rápido por ele e tropeçando no degrau da escada.
Agora, pensando bem, esse velho filho da puta deve estar envolvido com tudo isso. Se ele quem estava na porta, ele quem trancou para impedir Ulisses de entrar e ver seu amor. Deve ser isso. Bianca não é uma vadia, Jairo Jorge que queria humilhá-lo por ser um seguidor do Sol Negro Explosivo.
Ulisses se levanta, mais quebrado do que já estava. Talvez Bianca saiba de tudo isso esteja dando para Jairo Jorge e está no comando por trás de tudo. Ou não, são duas hipóteses extremamente válidas que precisam ser avaliadas de forma racional antes de uma conclusão. Só que os gnomos devem ter jogado um feitiço nele, pois não consegue parar e pensar.
Ele precisa de uma ajuda, do seu grande amigo e irmão Tomás, que até deixou a porta aberta para que escondesse em seu quarto. Talvez seja um bunker, um portal secreto, ou Tomás saiu para resolver a Nuvem Roxa Caindo e já volta para conversar. Só que Ulisses precisa se acalmar enquanto isso e, veja, Tomás pensou até nisso. Essa seringa verde com plantinhas vivas que se mexem dentro. Devem ser a cura,, um calmante, ou então um ampliador de mentes e está ali só para ele. Ulisses pega a seringa, mira no braço e…
Pré Combate
— Aaaaaah, eu só precisava dessa mijada antes da luta. — Diz Tomás para si mesmo de dentro do banheiro improvisado perto das arquibancadas. Enquanto lava as mãos, escuta a banda lá fora testando o som.
O grupo musical é contratado dos anfitriões do evento, a Carpe&Die, que além de ser a responsável por organizar as lutas no 1º Território, que pertence a esse grupo e que abrange bairros como Cidade Baixa, Centro e Menino Deus, costuma ser até contratada pelos outros grupos para auxiliar nos seus torneios, devido à sua espertize com eventos e espetáculos como esse. De forma geral, são um grande cover de AC/DC, mas também tocam músicas próprias e de outros grupos. É o tipo de som que Tomás gosta.
Ao lavar as mãos e sair do banheiro, quase esbarra em uma mulher usando terno preto e óculos escuros. O visual estranho à noite disfarça bem seu rosto e a mistura no meio dos outros Homens de Preto, que já estão agindo aos poucos conduzindo transeuntes para outros caminho e tentando controlar exageros dos presentes. O Véu da Ignorância é muito eficaz ao esconder o Submundo perante pessoas que olhem diretamente para ele, mas se olharem demais… melhor os Homens de Preto estarem lá para não olharem demais.
— POW, POW, POW, MEU POW-VO! — uma figura extravagante no meio da arena grita no microfone enquanto joga milhos de pipoca que estouram no ar, como fogos de artifício. Bombcorn, o mestre de cerimônias — ESTÁ CHEGANDO O GRANDE MOMENTO DA NOITE… Uma luuuuta de doooois candidatos a entrarem no Circuito de Proto-Humanos… Ferroaaaada e… Tomás? Esse cara nem tem um nome legal ainda.
As pessoas ali presente se agitam, com Verônica e umas duas “pétalas” da Srta. Rosa pagas para estarem ali gritam o nome de Tomás da plateia. Alguns gritam Ferroada. No entanto, o que a maior parte grita é que quer ver o pau comer.
— Os dois estão passando pelo desafio de entrar no circuito, uma sequência de lutas em que, se vencerem três delas, estarão aptos a serem reconhecidos como Proto-Humanos e dignos de se candidatarem a serem reconhecidos como campeões. Mas se perderem três antes disso… só ano que vem. Isso é, se as derrotas não forem… totais! VOCÊS QUEREM VER TIRO, PORRADA, E BOMBA HOJE?
— SIIIIIIIIIIIIIIIM!
— Muito bem… Não esqueçam de quem são nossos patrocinadores hoje. Roseiral, o grupo da cortesãs de luxo representado neste combate por Tomás Vachet. Montino Facas, Espetos e Churrasco, seu melhor corte, que demonstrará isso hoje com Ferroada. GoWeb NewAge, que faz a transmissão por toda SubNet para nossos espectadores que assistem de casa. Por fim, Carpe&Die, a melhor anfitriã e rede de casas noturnas. Uma SALMA DE PALVAS — e joga milho que estoura e vira pipoca para a plateia, que levanta seus potes enquanto tenta bater palmas ao mesmo tempo, de forma atrapalhada.
— Hmm… hoje vai ter vazio, costela e picanha. — Um homem cheio de próteses metálicas pelo corpo se aproxima do Mestre de Cerimônias, pega o microfone e faz sua fala apontando um dedo para Tomás Vachet, que se dirige na mesma direção. Durante o apontamento, a lâmina se projeta por cima do braço de Ferroada.
— OOOOOOPaa, já começamos com as provocações. — Diz o mestre de cerimônias. — Vai responder alguma coisa, Tomás? — Bombcorn aponta o microfone para Tomás enquanto ele se aproxima.
Tomás, no entanto, empurra devagar o microfone contra Bombcorn, enquanto passa reto e chega cara a cara com Ferroada. Durante a caminhada, os dois se encaram furiosamente em uma tensão crescente. Com o rosto próximo, Tomás dá uma risada irônica e solta um arroto enorme que toda arena conseguiu ouvir, mesmo sem o microfone.
— A TENSÃO ESTÁ GRANDE MINHA GENTE, MAS A LUTA NÃO COMEÇA AQUI — Diz Bombcorn se intrometendo entre os dois. — Olha, a briga é lá dentro. Posicionem-se senhores, pois já vou dar o início ao conflito, esperem só para mais uns recadinhos.
Os dois dão as costas e entram na arena, cada um por uma porta, que logo é fechada e começa a soltar descargas de eletricidade vermelha. Cada um senta no chão em um canto e ficam se encarando.
— Essa é a quarta luta de Ferroada, que já conta com duas vitórias e uma derrota. Se vencer esta, o veremos novamente nos torneios de território, no torneio regional e outras competições. Como podem ver, é um homem com próteses e lâminas pelo corpo. Agora, Tomás, é sua estreia até na fase de pré-ingresso. Um campeão imbatível das lutas de pessoas, começa hoje sua jornada nesse mundo, após ter adquirido aprimoramento nas suas habilidades físicas através de… — a voz de Bombcorn baixa enquanto Angélica, uma das “pétalas” de Srta. Rosa cochicha em seu ouvido. — Gente, informações novas aqui. Parece que Tomás não tem habilidade ou qualquer característica Proto-Humana.
A plateia toda grita “ooooohhh” e todos olham para Tomás incrédulos com variadas expressões de surpresa. Entre as reações, está a de Ferroada, que franze sua testa e começa a bufar.
— Tá me tirando? Tu vem me enfrentar sem nada? Sem uma arma, sem um poderzinho tirado do cu? Tu sabe que eu te matar pode ser que nem conte ponto para mim, eu perca meu tempo, e ganhe menos? Tá me subestimando, rapaz?
— Eu não preciso de merda nenhuma pra encher tua cara de porrada, aberração.
Então, Ferroada se irrita e parte para cima de Tomás com suas lâminas, ativando memórias Tomás. Sabe, é que assistir a uma facada em segunda pessoa — ou seja, tu é o alvo — é traumatizante, mas essa experiência pode ser pior quando engatilha uma memória de outra facada, de uma vez que tu viu em terceira pessoa, sendo desferida em alguém que tu amas. Só quando é contigo, tu quem cai no chão sangrando no final, com pessoas gritando “usa essa merda” enquanto apontam para uma seringa com líquido verde.
O braço levanta e estica, a mão abre para pegar a seringa…
Melhora de Ulisses
A seringa que está vazia, na mão de Ulisses, caído no quarto de Tomás. Ele abre os olhos, parece que ficou dias dormindo, mas pelo relógio, não faz muitas horas nem que saiu de casa. Sua roupa está toda rasgada, seu corpo tem manchas de sangue e algumas cicatrizes, mas nenhum machucado. Há algumas dores, mas não entende do que.
Suas veias parecem se mexer sob a pele, mas talvez esteja delirando do que quer que seja que tenha se injetado com aquela seringa. Estranho, fora isso, está tudo normal. Só não sabe o que faz no quarto de Tomás.
Tateia o chão, o lençol caído ao lado da cama, a escrivaninha. Se apoia, se senta. Há a impressão de novamente ter algo se mexendo, mas deve ser só delírio novamente. O redor está girando um pouco, deve ter bebido. De quem é aquele sangue todo? Não importa… né? O que importa é o que vem à sua memória.
Sua amada Bianca com quem discutiu horas antes de sair de casa. O motivo também não lembra, também não importa. Ela é maravilhosa, ele pode perdoá-la por qualquer coisa. Importante é celebrar seu amor.
Ulisses fica de pé, dá uma ajeitada na bagunça que fez no quarto de Tomás. Sai, fecha a porta, mas queria chavear se pudesse. Aberta assim pode entrar um louco e pegar as coisas dele. Meu irmão, tem que cuidar das tuas coisas.
É noite, não sabe horário, mas as pessoas já devem estar dormindo. Melhor não acordar ninguém. O negócio é ser ágil, mas delicado, para não ranger as madeiras. Agora é descer os dois degraus no final da cozinha, pronto, acesso ao pátio de trás. Segue o caminho de pedras, chega na sua casinha e… está vazia! Bianca, amor, não está. Deve ter saído para refrescar a cabeça também. Hora de preparar uma surpresa.
Ulisses tira toda sua roupa e coloca no tonel de roupa suja para lavar. Bianca não precisa se preocupar com catar cueca pela casa hoje. Ele dá uma varrida onde passa a procissão, pega o telefone e pede um sushi vegano. Entra no banho quente, onde tira as manchas de sangue seco do seu corpo, assim como os cascões de barro. Espera que não tenha machucado ninguém muito. E deve estar com estresse acumulado, suas veias não param de dar tremeliques eventualmente.
Enquanto ele se seca, alguém bate na porta la na frente da República. Dona Amélia, que já tinha chegado em casa, atende e era o sushi. Ela grita para ele pegar na cozinha. O guri se arruma, vai até a mesa do local comunitário, pega, leva para a casinha novamente.
Alguém gira a maçaneta para entrar. Finalmente, chegou sua amada. Ulisses se vira para receber Bianca, que está com a maquiagem manchada de choro, e a beija. Ela não entende nada, mas ambos rolam no chão como se não tivesse amanhã.
Incidente e final do combate
Assim como pode não ter amanhã para Tomás Vachet, que segura a seringa do XPTO e tenta trazer até seu corpo. De barriga pra cima, vê se aproximando, por fora da gaiola, Urubus. Homens de roupa preta e máscaras de bico branco semelhante a pássaros, prontos para tratar mais um paciente. Para a frustração dos pássaros, Tomás tem forças para se injetar o líquido verde.
Enquanto a substância entra pelo seu braço, os pedaços de hinfa se espalham paralelamente às suas veias. Tiras subcutâneas que mostram seu relevo, como se vermes estivessem procurando por algo dentro de seu corpo. Uma dor excruciante começa, um embate entre seu corpo e os restos de um fungo, ambos enfraquecidos, lutando pela dominância.
Enquanto se retorce no chão, Tomás pragueja contra todos. A plateia, Srta. Rosa, Bombcorn e Ferroada observam atentos. Não é a primeira vez de nenhum ali e as chances de alguém perder para o fungo Eclipsis cassinus normalmente já é difícil, em sua forma tão enfraquecida são quase nulas, mas nunca zero.
Tomás começa a sentir a dor indo, passa a mão pelas feridas fechando, mas sente que precisa levantar logo para acabar com tudo. Seu erro está em, no meio do caos, tentar se apoiar na cerca elétrica para se levantar. Uma descarga enorme e a gaiola perde todo o brilho, pois o choque levou toda a energia para passar pelo corpo de Tomás, como se suas veias fossem fiação elétrica.
Suspiros, gritos, choros, vaias na plateia. Após se retorcer e gritar guturalmente, em tom mais grave do que o baixo da banda, que inclusive parara de tocar para entender o que estava acontecendo. Srta. Rosa e Verônica se apertam, Bombcorn sorri empolgado, Ferroada levanta uma sobrancelha. A roupa, pelo menos, está intacta.
Uma descarga de energia vermelha e em formato esférico se expande a partir de Tomás, desligando baterias, celulares e carros. Ninguém sofre qualquer choque, mas sim impactos físicos, como se tivessem recebido um grande soco no corpo inteiro. Postes e carros amassaram, vidros de carro quebraram.
Absoluta escuridão. Linhas vermelhas como fios de neon se espalham pelo corpo de Tomás, com formas geométricas retas, losangulares, e geometrias irregulares. As luzes dos postes se acendem novamente.
— TÁ GRAVANDO, TÁ GRAVANDO? — Bombcorn dá tapas na câmera mais próxima.
Tomás sai correndo em direção a Ferroada, que retribui a ação. No caminho, o punho de Tomás, carregado em uma esfera de energia elétrica, encontra a ponta da lâmina de Ferroada. A mão de um é perfurada, o corpo do outro é eletrocutado por inteiro, mas ambos são arremessados para lados opostos com a descarga disparada.